Fomos fazer uma viagem a um mundo abominável e muitas vezes esquecido: O mundo das pessoas completamente viciadas em telemóveis. Essas pessoas vivem um pesadelo. Muitas vezes marginalizadas, desligadas da realidade, essas pessoas vivem só para fazer chamadas e para os breves e demenciais momentos em que ouvem o som polifónico do seu telemóvel. Mas algumas dessas pessoas querem reconstruir a sua vida e livrar-se de vez da poderosa malha das redes de telefones móveis. São homens e mulheres que perceberam que não podiam continuar a viver assim e procuraram a ajuda dos Teledependentes Anónimos. O Bidé foi assistir a uma das reuniões dos TA, moderada pela Dra. Alice. Aqui fica o relato impressionante:
Dra. Alice: Bem vindos a mais uma reunião dos Teledependentes Anónimos. E hoje é um dia muito especial para o Ruben. Não é Ruben?
Ruben: É verdade. Faz hoje um mês que eu não toco num telemóvel. Dra. Alice: Um mês sem telemóvel, que bonita data. Queres contar-nos porque é que não podes tocar em telemóveis, Ruben?
Ruben: Porque estava completamente agarrado às mensagens escritas. Passava o dia a escrever no telemóvel. Um verdadeiro horror, chegava a enviar 100 mensagens escritas por dia. E na última fase já nem usava a escrita inteligente, para ter que carregar em mais teclas.
Dra. Alice: Muito bem Ruben. Continua assim, um dia de cada vez. Temos também hoje connosco, um novo membro. E se começasse por se apresentar?
Victor: Boa noite, eu sou o Victor e… sou teledependente. Todos: Boa noite Victor. Dra. Alice: Victor, conte-nos a sua história. Victor: Bem, acho que comecei como toda a gente. Via as pessoas na rua com telemóveis e pensei, “caramba, se toda a gente tem um, porque é que eu também não hei-de ter?”. E então comprei um. Depois claro, comecei a andar sempre com ele. Já nem quando me deitava eu o desligava. Praticamente já nem sabia o que era viver se não tivesse o telemóvel comigo.
Dra. Alice: Calma Victor. Nós estamos aqui para o ajudar. Eu sei que é difícil mas continue.
Victor: Pronto, quando dei por ela já andava com três telemóveis. Um para cada rede. Pedia aos amigos para me ligarem mesmo que não tivessem nada para dizer. Depois os amigos começaram a afastar-se de mim e a trocar de números porque eu passava os dias a telefonar-lhes. Até a minha mulher me deixou, disse que eu ligava mais à agenda telefónica do que a ela. Mas o pior foi no emprego, não me deixavam ter o telemóvel comigo e então eu comecei a esconder-me na casa-de-banho. Tinha que fugir dali nem que fosse só para ver se tinha chamadas não atendidas ou ouvir o saldo. O que eu gostava de ouvir o saldo. Mas eles não me compreendiam e despediram-me. Dra Alice: E o que é que o Victor fazia? Victor: Era controlador de tráfego aéreo.