Eu até nutro uma certa simpatia pelo sr. António Vitorino de Almeida mas dito assim ninguém sabe quem é. Agora se eu disser que estou a falar do maestro António Vitorino de Almeida já todos conhecem. A pergunta que eu faço é: Por que é que toda a gente tem que chamar sempre e em qualquer circunstância, maestro ao homem? É efectivamente imprescindível que lhe estejam sempre a relembrar a profissão? É que por esta ordem de ideias, sempre que alguém se estiver a referir a um tipo que, por exemplo, é alfaiate ou técnico de contas, também devia dizer, “Ando a ver se como a filha do Alfaiate Manuel Joaquim dos Santos” ou então, “Vou jogar uma partidinha de ténis com o Técnico de Contas Alberto Silva Nunes”.
Quer dizer, até parece que o sr. António não é maestro mas O Maestro. Como se fosse o único maestro. Será que ele próprio alinha neste esquema e no bilhete de Identidade também assina com maestro, como se fosse um cognome? E na vida quotidiana, estará sempre a referir-se à sua pessoa nestes termos, “Está sim? Olhe, daqui fala O Maestro. Era para ver se me podia vir aqui desentupir a sanita, se faz favor”. E a esposa, fará o mesmo e não abre mão do Maestro?, “Ó Maestro volta prá cama. Tenho os pés frios, Maestro.” Ou então, “Estou com tantas saudades da tua batuta, Maestro!”.
E já agora mais umas questões igualmente pertinentes: Será que para se ser Maestro, é imperativo que se refira no curriculum que se usa o cabelo desgrenhado e bengala? Será que um tipo que penteie o cabelo ou faça risco ao lado e caminhe sem apoio, pode ter esperança em um dia vir a ser Maestro? Ou mais pertinente ainda: Para um homem que é tantas vezes apelidado de Maestro, não se devia ouvir falar mais de concertos que ele tenha dirigido? Já alguém viu efectivamente O Maestro a dirigir alguma orquestra?
Acho que por agora chega. Siga a música, Maestro!