Vivo constantemente angustiado por uma dúvida que me atormenta: terei as patilhas demasiado compridas? Esta incerteza já foi para mim próprio, motivo das mais acesas discussões interiores em frente ao espelho. “Haverá um comprimento ideal de patilha para cada corte de cabelo?”, “como é que eu sei se elas estão dentro dos padrões aconselháveis?”, “estarão as minhas patilhas a exceder o limite máximo recomendado?”, são as questões filosóficas que me coloco todos os dias da minha vida. Como não tenho certezas, estabeleci uma regra que pode não ser a mais correcta mas que me permite sobreviver: à medida que o cabelo vai crescendo, as patilhas acompanham proporcionalmente o seu crescimento. Apenas por uma vez tive a infeliz ideia de fazer um corte radical e muito curto, e a única coisa que consegui ganhar com isso, foi uma nova alcunha: ouriço. Ora, como tenho sempre o cabelo comprido à frente, por vezes mesmo muito comprido, (e mais curto atrás), vocês já estão a ver a minha preocupação em relação ao tamanho das patilhas.
Isto pode parecer um problema menor - e até fútil - para um nórdico, um japonês ou um careca, mas não para um português genuíno, um latino que carrega consigo todo o peso duma tradição ancestral de patilhas. Também por isso, já se justificava a criação dum Instituto Português das Patilhas (IPP). O IPP dedicar-se-ia a fazer a resenha histórica e o estudo sociológico aprofundado sobre a mudança e evolução da patilha no nosso país ao longo da história. E mais importante que isso, o IPP deveria criar um Código de Conduta que seria aprendido nas escolas, pelos nossos jovens, deste tenra idade! Este Código de Conduta estabeleceria os padrões normais e razoáveis da patilha em termos de coerência facial, comprimento, densidade capilar, ângulo e corte do terminus da patilha, e todos os outros cuidados básicos que se deve ter, para que uma patilha seja apenas uma patilha e jamais uma hipérbole.
Não nos deixemos enganar meus amigos, há falta de cultura da patilha no Portugal contemporâneo. Todo o português deve fazer a si mesmo as seguintes perguntas: Estarei eu a respeitar a herança cultural da patilha, que me foi deixada geneticamente pelos meus antepassados? Que patilhas queremos nós deixar como legado, aos nossos filhos e às gerações vindouras? Qual o futuro da patilha em Portugal? Não se deveria realizar um congresso para discutir a problemática da patilha? E a mulher portuguesa, também não terá uma palavra a dizer? E se algumas têm mais buço que eu, porque não também umas viçosas patilhas?