Comecei a aperceber-me que a cada dia que passa, estou mais perto dos 30 anos. Constatei isto com a imprescindível ajuda do sr. Lapalisse. Pois é, todos chegamos a uma idade em que começamos a reconhecer que também envelhecemos como os outros (mais uma vez, obrigado monsieur Lapalisse). Eu, pelos vistos, estou irremediavelmente nessa idade. Estes são os motivos, que me levam a pensar, que estou a ficar velho:
- Comprimento pessoas que não conheço. Apesar de tudo não se trata de demência. É que já vejo mal ao longe, e dou por mim a levantar a mão e a sorrir para desconhecidos, que se parecem com alguém, e que automaticamente começam a andar mais depressa. Para evitar estas situações, também já tenho deixado de cumprimentar pessoas que conheço, o que me tem valido o apelido de “antipático”.
- Já não consigo dormir até tarde. Mesmo quando posso. Isto preocupa qualquer um. Uma coisa é não termos tempo para dormir, outra é acordar a um domingo, depois de uma noite de copos, olhar para o despertador, serem 11 horas e inexplicavelmente já não ter sono. Que é que virá a seguir? Ter uma bela mulher ao lado, na cama, e não apetecer possui-la?!
- A minha memória já não é o que era. Por vezes tenho até uma certa dificuldade em lembrar-me da última vez que o Benfica foi campeão ou quando é que os ordenados tiveram um aumento a sério. Também me esqueço frequentemente que temos um Ministro da Cultura.
- A minha vida desportiva está a pedir a reforma. Apesar de já ter praticado basquetebol, atletismo, futebol, vólei de praia e mais recentemente ténis, agora ao fim de meia hora fico com os bofes à boca. E até cheguei à conclusão que o desporto faz mal à saúde. Aconteceu quando no outro dia tentava chegar a uma bola junto à rede e me espalhei ao comprido sobre a relva artificial que estava afiada e dei cabo dum braço e duma perna. Além de perder o ponto, claro. Receio que deve faltar mesmo muito pouco para a minha próxima carreira desportiva: sentado num banco de jardim a jogar à sueca ou dominó.
- Tremo das mãos. Mesmo assim, tenho esperança que ainda não seja Parkinson, já que só me acontece quando estou a despir uma nova conquista, pela primeira vez.
- Tenho dificuldades de compreensão. É triste mas por vezes não consigo compreender, por exemplo, onde é que estão as armas de destruição maciça do Iraque ou como é que em pleno século XXI, as mulheres portuguesas, não têm direito à liberdade de decisão, em relação ao seu corpo.
- Comecei a sair com mulheres mais novas. Pois, eu sei, sei eu. Isto é só uma forma inconsciente de agarrar a juventude, de me sentir rejuvenescido, blá, blá, blá. E também sei o que é que estão a pensar: que já é altura de começar a assentar, a levar uma vida mais moderada, a pensar no futuro, em vez de andar permanentemente a sair com miúdas fogosas e indomáveis, cheias de energia, completamente insaciáveis, viradas para a experimentação e com profundos conhecimentos de contorcionismo, que só me vêm como homem-objecto e que além do meu corpo, nada mais querem de mim… não é, seus sabichões..?
Bem vistas as coisas, não há coisa mais triste que a velhice..