Eu: Olá! Desculpa, se eu te atirasse com um “não nos conhecemos de algum lado?”, como é que tu reagias?
Uma: Mal.
Eu: Então ainda bem que não me atirei. Mas mesmo assim: estás a fazer alguma coisa mais interessante?
Uma: Estou à espera da minha amiga que foi à casa-de-banho.
Eu: Isso é realmente mais interessante. Mas eu também vim só dizer-te que não pude deixar de reparar na tua mala.
Uma: Não me digas.
Eu: Acho-a muito original. Gosto tanto dela que até me apetece arriscar uma frase traiçoeira: ‘ma mala dessa forma dá cabo de qualquer um!
Uma: És especialista em malas, é?
Eu: Sou. Conheces uma que é vermelha e em forma de regador?
Uma: Não. E gosto mais de mochilas.
Eu: Eu gosto mais de mexe-las.
Uma: É? E mexe-las bem?
Eu: Claro que sim.
Uma: És um convencido, não?
Eu: Não estou convenci disso.
Uma: O que é fazes para além de observar malas?
Eu: Devasso conversas.
Uma: E tens devassa muitas?
Eu: Todas as que posso.
Uma: Ah, e achas que vais consegui alguma coisa com esta?
Eu: Acho que estou muito bem encaminhado. Não te parece?
Eu: És sempre assim ou estás com os copos?
Uma: Ora ainda bem que me faz essa pergunta.
(pausa) Uma: Mais alguma coisa?
Eu: Conheces aquela expressão, “em tua casa ou na minha”?
Uma: Deves estar a brincar comigo!
Eu: Pois estou. E agora vou-me embora.
Uma: Está bem.
Eu: Mas tens um excelente gosto para malas.
Uma: E?
Eu: E nunca deixes que te convençam do contrário.
Uma: E mais?
Eu: E mais eu podia ser um regador. Mas não sou.
UM MINUTO DEPOIS
Outro: Então, o que é que lhe disseste? Como é que correu?
Eu: Muito bem.
Outro: Conta.
Eu: O regador é um lugar estranho.
Outro: O quê?!
AGRADECIMENTOS: Esta conversa só foi possível graças à inestimável contribuição da glamourosa e enebriante Catarina, que dias antes me tinha despertado para o fascinante mundo das malas. E já agora, uma saudação muito especial para o primeiro gajo que lembrou de misturar Bacardi com cola.