Mas antes, vocês têm que compreender que eu quando bebo uns copos valentes, digamos, quase tanto como o Zahovic, revelam-se em mim, dois talentos extraordinários: O primeiro é para perder todas as pessoas que estão comigo com a maior das facilidades. O segundo é muito mais preocupante. É que por muito que eu beba, de um modo geral, nunca me esqueço do que se passou. E podem crer que conviver com esta aptidão e sobretudo com consciência, é bastante cruel. Nem imaginam as coisas que eu tenho feito e que gostava tanto de me esquecer.
Outra característica minha é que quando estou com os copos, os meus maxilares parece que ficam rígidos e como tal, apresento um esgar facial permanente. Isto, claro está, confunde muita gente, ao ponto de poder transmitir a ideia errônea que eu estou sempre a sorrir.
Ora, foi exactamente isso que devem ter pensado as duas loirinhas que dançavam à minha frente no sábado à noite. Não sei que horas eram, não sei o que é que tinha dentro do copo mas sei que a música estava muito alta e quero acreditar que era isso que me impedia de raciocinar. Depois de muitas risadinhas e cochichos ao ouvido, uma delas aproxima-se e diz:
- Olá.
- OLÁ!
- A minha amiga querer-te conhecer.
- Esquece a tua amiga. Eu gosto é dos teus olhos.
- O QUÊ?
- AI QUER?
- Ela acha que tu és muita giro.
- Ah. Eu quero conhecer-te antes a ti.
- Eu não. Ela.
- Vá lá. Porquê?
- Eu já tenho namorado.
- E onde é que ele está?
- Hoje não pôde vir. Está de castigo.
Este “está de castigo” fez despertar um pouco de luz em mim e com o último resquício de sobriedade pergunto:
- Quanto anos é que tu tens?
- Faço 17 para o mês que vêm.
- O QUÊ?
- Vou fazer 17.
- 17??? E a tua amiga?
- Ah, ela é não tão velha como eu.
Estou certo que olhei para todos os lados enquanto pensava, “Gaita, isto que tu estás aqui a fazer é bem capaz de já dar cana! Onde é que raio esconderam a placa que diz EXIT?”
Será que ando a precisar de tomar comprimidos para a atenção?