Uma das desvantagens de ter estado tanto tempo ausente, é que não me foi possível comentar alguns acontecimentos memoráveis que ocorreram este Verão. Por exemplo, quando ouvi falar pela primeira vez no Barco do Aborto, ocorreu-me imediatamente: “Barco do aborto? Mas o José Castelo Branco tem um barco???”. Também andou por aí o boato que o Michael Jackson estava a considerar a hipótese de mudar de sexo. Ao ler isto num jornal qualquer não pude deixar de pensar, “Mas só agora é que se lembrou que queria ser um homem?”. Bem, e por aí fora. Mas houve sem dúvida nenhuma um acontecimento mais interessante que todos os outros: foi o Campeonato do Mundo de Futebol dos Sem-Abrigo. Eu repito mais devagar: Campeonato-do-Mundo-de-Futebol-dos-Sem-Abrigo! Tenho que vos confessar que quando soube deste evento, até fiquei um bocado sentido comigo mesmo. Quer dizer, tenho eu tantas ideias parvas, ridículas e bizarras e foi-me escapar logo esta que estava mesmo na cara!
- Comendador, acho que devíamos estudar uma forma de apoio social que acabasse com esse flagelo que é a mendicidade.
- Está bem. Pode ser. Alguém tem alguma ideia?
- Ó sr. comedador podiamos fazer um Campeonato de futebol dos Sem-abrigo!
- Ora isso é que é falar!
Meus amigos, eu não sei quem foi o génio que teve esta ideia brilhante mas não
posso deixar de perguntar: Não há nada melhor para fazer pelos sem-abrigo do que vestir-lhes uns calções, calçar-lhes umas caneleiras e mete-los a correr atrás de uma bola?! O que é que vão fazer a seguir? Campeonatos de Matraquilhos dos Sem-Vergonha? Torneios de Golfe dos Sem-Terra? Campeonato do Mundo de Andebol dos Sem Dentes?
Devo informar que a Selecção Nacional dos Sem-Abrigo ficou num pouco honroso 16º lugar. Pudera, de que é que estavam à espera? Aposto que os nossos jogadores se viraram para o treinador e perguntam:
- Então ó chefe, que é que a malta ganha com isto?
- Ora, ora, ganham uma taça, pois então.
- Uma taça?
- Sim, sim, uma taça!
- De vinho?
- Não, uma taça toda bonita!
- Aaaah, tá bem abelha.
E já imaginaram se de repente resolverem começar a fazer um campeonato nacional dos sem-abrigo? Bom, se a crise continuar por muito mais tempo dá para fazer um campeonato, à vontade, à vontade com 50 equipas! E depois como vai ser? Entre equipas de sem-abrigo nunca se joga em casa? Todos os jogos são fora? E se por acaso alguns desses jogadores sem-abrigo se tornar um craque, conseguir uma excelente transferência e começar a ganhar muito dinheiro, deixa de poder representar a selecção dos sem-abrigo? Não estará aqui um tortuoso e intrincado paradoxo?
Perante isto não há muito mais a dizer.
Acho que agora vou jogar na equipa dos sem-palavras.