Agora que o governo se prepara para aprovar leis mais restritivas sobre o consumo tabaco em locais públicos e que o preço dos maços de tabaco vai voltar a subir, alguns fumadores aproveitam a ocasião para tentar deixar de fumar. Mas esta é apenas parte da realidade. Existe um outro mundo oculto que nós fomos investigar: Então e aquelas pessoas que estão a tentar começar a fumar? Quem são essas pessoas? Como vivem essas pessoas? Não estão bem com a saúde que têm?
Para saber mais, entrevistámos em exclusivo um ex-não-fumador. Para manter o seu anonimato, vamos chamar-lhe apenas António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes.
- Senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes, foi difícil começar a fumar?
- Sim, no início foi muito difícil. Comecei por tentar fumar dois ou três
cigarros ligth por dia e gradualmente fui começando a reduzir o tempo que estava sem um cigarro na boca. Mas vi logo que assim não chegava a lado nenhum.
- E então, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes, o fez?
- Olhe, Passei para o SG Gigante, SG Ventil e o SG Filtro. Mas mesmo assim ficava sempre muito desiludido comigo mesmo porque era raro o dia que eu conseguia fumar um maço inteiro.
- E porque é que acha que isso acontecia senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- Eu julgo que devia ser o organismo que se estava a custar a habituar aos pesticidas. Mas sabe como é, se até a bicharada da fruta e as alfaces se habituam àquilo, porque é que eu também não havia de conseguir? Os pesticidas e todos aqueles componentes químicos cancerígenos não me iam travar. Sabe porquê? Eu digo-lhe porquê. Porque eu tinha um sonho.
- Que sonho era esse senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- Eu queria ser o maior fumador do mundo! E estava disposto a tudo para o conseguir!
- Diga-nos, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes, o que é que fez para conseguir isso?
- Sabe, não basta querer. É preciso ter muita força de vontade. E muitos euros para investir no tabaco, tá a compreender? Além disso senti na altura que precisa escrever aquilo a que chamei “a Bíblia do Bom Fumador”.
- A Bíblia do Bom Fumador? Pode explicar-nos melhor senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- A Bíblia do Bom Fumador é a modos que um manifesto onde eu desenvolvo um conjunto de técnicas e métodos únicos e revolucionários que está no fundo muito avançado para a época em que vivemos e em que me proponho conseguir meter qualquer um a fumar como deve ser.
- Pode mostrar-nos esse documento, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- Não, nunca! Esta Bíblia está muito bem guardada e jamais alguém a vai ver. Vou dar apenas um exemplar a cada um dos meus filhos, quando eles crescerem e resolverem tornar-se uns grandes fumadores como o pai.
Mas posso dar-vos uns tópicos.
- Muito bem. Dê-nos então uns tópicos, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes.
- Olhe, eu nunca fui muito de sair à noite mas às páginas tantas, lembrei-me que se calhar o melhor mesmo era passar a frequentar bares e discotecas todos os dias. Para ver se os pulmões se ambientavam. Mas ir às discotecas e aos bares não basta. Tudo bem que aquela fumarada toda ajuda mas é essencial que se beba uns copos valentes também, tá a compreender? É que eu descobri que se bebesse, fumava muito mais. E quando descobri isto, fez-se luz: “Já sei! Eureka! Vou tornar-me alcoólico! Isso é que vai mesmo dar um jeitão!”
- E mais, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- Eu sabia se queria ser um fumador inveterado, tinha que fazer sacrifícios. Por exemplo, nunca tinha tomado um café na vida mas depois de muito estudo percebi que era importante toma cafés porque o café puxa o cigarro, tá a compreender? Até há quem diga que o melhor cigarro é o que se fuma depois do café e eu já estava por tudo e então bebia 6 ou sete cafés depois de almoço.
- Isso é de facto extraordinário, senhor António Joaquim da Cruz Silva Mendes.
- Mas não ficava só por aqui! Você sabe que uma pessoa quando está nervosa é capaz de fumar uns cigarros atrás dos outros. Ora, eu não era capaz. Mas queria muito. Foi aí que comecei a dedicar-me a coisas que me provocassem nervoso miudinho ou nervos em franja.
- Como assim, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- Ver todos os jogos do Benfica, seguir atentamente a actuação deste governo, matutar sobre se concordo com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa.
- E depois disso tudo, o senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes já se considerava um fumador a sério?
- Não. Sentia que havia qualquer coisa que não batia certo. Não era normal estar a custar-me tanto começar a fumar. Pensava assim: Seria do catarro permanente? Seria do mau hálito? Seria da expectoração esverdeada? Claro que não. Com isso posso eu bem. Foi então que eu percebi tudo: Só podia ser do desporto que eu persistia em praticar! É que parecendo que não, uma pessoa quando anda para aí feito parvo a correr e a exercitar-se, perde muito a vontade de fumar uns cigarros. Vai daí, pensei para comigo, “Ó rapaz, isto assim não pode continuar. Ou bem que fumas, ou bem que fazes desporto.” E prontos, não fui de modas e cortei drasticamente com o futebol de salão, o ping-pong, o jogging e o ginásio.
- E agora como se sente, senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes?
- Ah, agora sinto-me completamente diferente! Já nem sequer me lembro do tempo em que não me levantava a meio da noite para fumar, do tempo em os meus dentes era brancos e do tempo em que não acendia uns cigarros nos outros . Hoje em dia sou um homem novo. Um homem novo, que aparenta ter mais 20 anos em cima! Isto que fique bem claro, tá a compreender?
- Perfeitamente. Obrigado pelo seu depoimento senhor António Manuel Joaquim da Cruz Silva Mendes.