Vocês sabem que dia após dia, semana após semana, tento escrever sobre assuntos que não lembram nem ao Menino Jesus. Acontece que agora estamos perto do Natal e não pode ser.
Como é uma época do ano tão intensa e que tanta gente gosta, resolvi também eu entrar no espírito desta quadra. Por isso, vou hoje contar-vos o que eu mais detesto no Natal:
O Natal dos Hospitais. Já muito se tem falado e escrito sobre o Natal dos Hospitais mas nunca é de mais, perguntar: A ideia não devia ser ajudar na recuperação das pessoas que estão doentes? Então expliquem-me, como é que raio pretendem fazer isso, expondo-as às cantorias do Melão, do Toy e da Romana?! Alguém consegue ficar melhor depois de ouvir a Ágata ou o Nel Monteiro??? É que não me tiram da cabeça que há dedo governamental nisto de todos os anos se promover o Natal dos Hospitais. Cá para mim, não passa de mais uma daquelas tentativas de diminuir drasticamente as listas de espera! É como se alguém do ministério da Saúde estivesse a dizer aos pacientes, “Pense bem, olhe a sua saúde, não será melhor, fazer essa operaçãozita à bexiga, no estrangeiro? Hum? Eu não estou a dizer nada, mas há sempre a possibilidade de depois da operação, ter que ficar agarrado a uma cama, a ver o Natal dos Hospitais!”
Fazer compras. Eu até gosto de fazer compras. Em qualquer outra altura do ano. Agora, chamem-me o que quiserem mas, por muito que tente, não consigo mesmo apreciar o facto de perder horas em filas, atropelos e confusão, só para gastar quantidades obscenas de dinheiro, em coisas que nem sequer são para mim.
Árvores de Natal artificiais. Primeiro porque se é artificial, não é uma árvore. Depois, só consigo conceber ter em casa uma árvore de Natal com algum significado, se essa árvore já teve algum dia, efectivamente, agarrada por raízes ao chão, e foi cortada com um machado. Ou um motoserra. Se assim não for, meus amigos, qualquer dia a fronteira que nos separa de, num ano ter uma árvore de Natal em plástico ou no ano seguinte, um cabide enfeitado com fitas, luzinhas e bolas vermelhas, ao pé da lareira, torna-se cada vez mais ténue.
Bolo-rei. Não estou a referir-me concretamente ao sabor do bolo-rei mas sim ao facto de já há muito tempo vivermos numa República. Já não são mais que horas de acabar com a monarquização da doçaria natalícia e assumir de uma vez, em todas as pastelarias, o bolo-presidente? Não acham que isto de se viver numa República tem de servir para alguma coisa? Considero até, que esta medida ainda se justifica mais este ano: Bem vistas as coisas, e se nos recordarmos dos desenvovimentos políticos mais recentes, qualquer português facilmente concluí que nos calha sempre a fava.
Músicas de Natal em elevadores. Eu até estava para dizer músicas de Natal em shoppings, no geral, só que nos elevadores o caso ainda consegue ser mais dramático. Quer dizer, já não basta estarmos num espaço confinado, claustrofóbico, espalmados contra outras pessoas que não conhecemos de lado nenhum, que praticamente respiram o mesmo oxigénio que nós, e ainda temos de levar com aquelas músicas irritantes, que nem o próprio Jesus Cristo conseguia ouvir?! Estou até convencido que se há um motivo forte para ele ter aparecido há 2000 atrás e não agora, é porque na altura ainda não havia shoppings, elevadores, colunas de som e principalmente músicas de Natal.
O Pai Natal não existe! Eu sei que esta informação pode ser uma grande desilusão para muita gente que me está a ler mas todos merecem saber a verdade. E a verdade é que todos os Pais Natais que andam para aí, são falsos! Cuidado, não se deixem enganar: São falsos todos os Pais Natais que virem pendurados em janelas, escadas e chaminés; Também aqueles que se vêm pelas ruas a distribuir panfletos e em comboios com crianças, não passam de enganadores Pais Natais contratados. Se repararem bem, aquelas barbas brancas são postiças e acreditem em mim, o mais certo é serem adolescentes cheios de borbulhas, a mascar pastilhas elasticas e sem emprego. Mais surpreendente ainda são certos Pais Natais que se encontram em cadeirões em alguns shoppings, a sentar crianças ao colo. Esses, não há dúvidas, são muito mais elaborados com as suas barbas verdadeiras, a sua idade avançada (tão conveniente) e um sorriso cativante. Podem por isso enganar mais facilmente os mais desatentos mas se eu vos disser que até essas “supostos” Pais Natais, não passam de meros pensionistas pançudos que estão ali só para ganhar mais uns trocos? Sinto muito ter que ser eu a dar-vos estas tristes notícias mas alguém tinha de denunciar esta lamentável situação.