OS OSCARES Aí estão as tão aguardadas nomeações para os Oscares. Como já devem saber, os nomeados para melhor filme são: O Aviador, Million Dollar Baby, À Procura da Terra do Nunca, Sideways e Ray. Gostava muito de poder fazer uma crítica de cinema construtiva sobre os nomeados, mas como ainda só um deles (À Procura da Terra do Nunca) estreou no nosso país (e nem esse tive oportunidade de ver), vou agora limitar-me a fazer a sinopse desses filmes (leia-se, inventar comó caraças), apenas baseado nos títulos dos mesmos.
O Aviador. O filme com mais nomeações este ano, onze no total. O que me parece um pouco exagerado para um filme que retracta a vida de um milionário de bigode que não tem maneiras à mesa. Ele come à pressa, ele fala com a boca cheia, ele apoia os cotovelos na mesa, e pior de tudo, abre de tal maneira os braços enquanto come, que impossibilita a proximidade de qualquer comensal num raio de um metro e meio. O clímax acontece quando o milionário de bigode descobre que todas as mulheres o desejam e se deitam a seus pés. Este não hesita e avia-as a todas (possivelmente só para manter a coerência do título). Isto é, usando uma expressão que os portugueses bem conhecem, começa a dar “show de bola”. Ou para ser mais exacto, “show de bolas.”
À Procura da Terra do Nunca. Conta-nos a história de um solitário e misterioso escritor que viaja pelo mundo em busca de inspiração. Um dia um rude golpe do destino leva-o a um país chamado... Portugal. Obrigado a permanecer aí durante 3 meses, vai perceber com horror que este é o sítio que procurava. Porque há males que vêm por bem, depois de muitas peripécias, escreve o livro da sua vida onde conclui: "Portugal é a terra do NUNCA pensei que ainda existisse um país assim na Europa; Portugal é a terra do NUNCA mais vão a lado nenhum; Portugal é a terra do NUNCA acreditava se não visse com os meus próprios olhos, que em pleno sec. XXI ainda se faz campanha política com slogans como "inglês para todos desde o ensino básico".
Este filme é um thriller angustiante a que apenas os mais fortes resistirão.
Million Dollar Baby. Conta a história de uma herdeira de um dos maiores grupos hoteleiros do mundo mas que ninguém conhece de lado de nenhum. Isto até a própria ter a brilhante ideia de colocar na internet um vídeo caseiro das suas performances sexuais com o namorado e assim atinge o estrelato. É um filme de muita acção, como devem imaginar.
Sideways. Sobre este filme sei realmente alguma coisa! É que pude ver a entrevista de uma das actrizes (Virgínia Madsen, também ela candidata a Melhor Actriz Secundária), no programa do Jay Leno. E o que eu sei é que o filme é sobre vinhos. Temos este ano um filme candidato aos Oscares que é sobre vinho. Facilmente se conclui que o Título do filme, Sideways, nos remete para os locais onde costumam ir parar os carros de quem conduz e bebe vinho ao mesmo tempo.
Ray. Só um cego é que não vê logo que este filme só pode ser um melodrama sobre um homem chamado Ray e sua descida ao inferno derivado de ter um problema na fala e não conseguir dizer os "erres".
Em primeira-mão aqui fica uma das cenas do filme:
- What ‘s your name?
- My name is Gay.
- Don't worry, I don't like my name either. My name is Glenda.
- Geally?
- No, Glenda. And your’s?
- My name is Gay.
- I understand that. But what gay name are we talking about here?
- My name is Gay Charles!
- Charles? Charles is not that bad. What do you do for living?
- I sing, I play piano and I use sun glasses.
- Ok, that is gay.
Nota: Agora mais a sério, coincidência ou não, fui ver ontem o Closer de Mike Nichols. A palavra que me ocorre para o definir é "irrepreensível". Deixou-me a nítida sensação que merecia muito mais no que respeita a nomeações para os Oscares (Melhor filme? Melhor argumento adaptado?). A academia ficou-se pelas nomeações de Natalie Portman e Clive Owen nos secundários (e porquê secundários?). Estes têm de facto duas interpretações sublimes ao ponto de abafam inquestionavelmente as mega-estrelas Júlia Roberts e Jude Law.
Nichols com a sua cenografia teatral (o filme é adaptado de uma peça), quer-nos de facto muito perto (closer) para fazer de nós testemunhas abusivas de um intrincado jogo de relações cruzadas. Como se ninguém merecesse ficar indiferente ou isento. E depois presentei-nos com um ambiente intimista que é estranhamente acolhedor apesar de terrivelmente cruel. Não há uma linha de diálogo, uma fala que seja desajustada.
Vi o Closer como um retracto negro da vida emocional, da ausência de frugalidade nas relações humanas e sobretudo do grande egoísmo que é o amor. O filme quer-nos conscientes que nada está garantido. Aconselho vivamente a que vejam o filme sozinhos, ou podem dar por vocês a questionar toda a relação que têm, com a pessoa da cadeira ao vosso lado. Irreprensivelmente cruel.