O espaço que se segue é da exclusiva irresponsabilidade do interveniente.
Não posso deixar de me regozijar, por desta vez, estarmos a ter uma campanha eleitoral como deve de ser! Aqueles que andam mais distraídos, têm estado a perder um confronto político a sério: Não vão faltando os boatos, as acusações pessoais, as facadas nas costas, o bate-boca, as metáforas mal intencionadas e venenosas. Ainda bem que todos os partidos têm conseguido perceber aquilo que os cidadãos querem realmente, em oposição a ver debatidas questões sempre tão maçadoras como a economia, o desemprego ou o défice.
Dentro deste elevado nível de discussão de ideias que se tem assistido, conseguiu-se também, puxar para a ribalta política um tema que a todos os portugueses muito interessa: Os casamentos homossexuais.
Não quero parecer queixinhas mas eu até sei que há alguns partidos que estão dispostos a alterar a lei, para permitir os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. No lugar dos homossexuais, protestaria veementemente.
Considero inadmissível o que lhes querem fazer, será que esses senhores já se perguntaram o seguinte: porque é que os homossexuais hão-de querer abrir mão, daquela que eu considero a única vantagem que há em ser homossexual? Não terem a pressão do casamento.
É que não sei se já repararam que numa sociedade judaico-cristã como a nossa, os gays são os únicos que não são pressionados a toda a hora para casar. Toda a gente que casa, quer ver toda a gente casada. Como se ninguém pudesse ficar a rir-se. E isto vale para todos os solteiros, excepto os homossexuais. Então, para que é que lhes querem agora arranjar mais problemas? Só lhes faltava mais essa. Se mudam a lei de modo a permitir os casamento homossexuais, um dia destes ainda vamos assistir a conversas destas:
- Joana, não achas que já vai sendo tempo de arranjares uma namorada a sério, para casar? Ora andas com uma, ora andas com outra, não penses que vais ser nova toda a vida. De que é que estás à espera, filha? Da mulher da tua vida? Não te esqueças que já estás quase com trinta!
Ou então:
- Pedro, não achas que está na hora de assumires as tuas
responsabilidades? Há séculos que tu namoras com o Ricardão! Ó filho, se não te sentes preparado para o casamento não andes a enganar o rapaz! Que é que os pais dele hão-de pensar de nós, hum?
Eu não quero parecer preconceituoso mas às vezes pergunto-me: se os casamentos homossexuais forem para a frente, a própria cerimónia em si, também não será um pouco confusa para os convidados? (exemplo: “O senhor aceita este senhor para seu esposo?” ou “Declaro-vos marido e marido”.) E até redundante? (exemplo: Quando se chega à parte do beijo vai dizer-se: “O noivo pode beijar o noivo”? Agora fiquei a pensar se não vai ter que se arranjar, com antecedência, um sistema de atribuição de papeis, para facilitar o acompanhamento das formalidades? Tipo: “A Noiva A pode beijar a Noiva B”.)
Há ainda uma série de outros pormenores técnicos que eu não estou a ver como é que os pretendem resolver:
No caso dos homens, quem é que espera no altar e quem é que chega de braço dado com o pai?
No caso dos casais de lésbicas, qual é o critério na escolha de qual espera no altar e de qual chega atrasada? E já que se trata de duas mulheres, não haverá um risco de chegarem as duas atrasadas?
E devem as duas mulheres envergar o tradicional vestido-de-noiva? Se sim, não ficará isso demasiado dispendioso para o orçamento familiar?
Na lua-de-mel quem é que carrega quem, ao colo? Será através da pesagem, moeda ao ar ou pelo método par ou impar?
Bem, vou ficar ansiosamente à espera do debate de logo à noite, para ver se fico mais esclarecido.