Estive por estes dias, intencionalmente afastado das lides bloguísticas. Não queria falar das eleições. Para tal, tinham todos os outros blogs. E como eu previa, quase ninguém hesitou em exultar a vitória ou em carpir a sua desilusão.
Considero que estas eleições legislativas foram demasiado importantes para se brincar com elas. Ou seja, não é assunto para o Bidé.
Por isso também não me vão ver (ler) a fazer nenhuma piada sobre a vitória do PS, nem sobre o Sócrates, nem sobre a certeza de assim não se pagar para usar a Via do Infante.
Há no entanto uma pequena particularidade destas eleições, que eu gostaria de falar e que tem sido esquecida ou negligenciada: Sou totalmente contra o voto electrónico.
Condeno o voto electrónico por este vir pôr fim a uma das nossas maiores, senão a maior, instituição democrática: o voto nulo.
Os precursores do voto electrónico parece que se esqueceram que há cidadãos portugueses que consideram extremamente libertador, rasurar e usar calão no seu boletim de voto. Ninguém parece ter pensado que no futuro (por exemplo, nas eleições presidências) já não será possível desenhar bigodes demoníacos e apêndices bovinos nas fotografias dos candidatos. Ah, pois é. Isto é grave. Isto é censura.
Pergunto eu: Ao fomentar esta modernice do voto electrónico, não estarão a faltar ao respeito àqueles cidadãos que eleição após eleição, perdem precioso tempo em busca do seu cartão de eleitor, para depois percorrerem muitas vezes alguns quilómetros até às mesas de voto, esperarem em filas intermináveis e tudo isto, só para exercer o seu direito de mandar o voto às urtigas?
Não vejo que o voto electrónico tenha legitimidade e possa avançar, se não melhorem o sistema informático. No meu ponto de vista, é imperioso que haja um teclado e um rato junto de cada monitor de voto. Com o teclado, o eleitor poderá escrever todo o tipo de palavrões que desejar. Se quiserem ir mais longe, e no intuito de educar os mais iletrados, até poderiam implementar um software que incorporasse um corrector de vernáculo. Já com o rato, todo o individuo recenseado poderia facilmente fazer os gatafunhos e desenhar os símbolos fálicos que bem lhe aprouvesse.
Digam-me lá se não é isto que é democracia em acção?