Cera nos ouvidos é o tema de hoje. Incompreensivelmente, a cera nos ouvidos tem sido negligenciada pela literatura em geral e pela blogosfera em particular. É tempo de dizer “Basta!”, é tempo de dizer, “Parem de fingir que a cera nos ouvidos não existe!”
Ultimamente tenho notado um acréscimo substancial de cera nos ouvidos, o que me levou a reflectir sobre o assunto.
Julgo que esse fenómeno só pode estar relacionado com tudo aquilo que hoje em dia se ouve por aí. Tenho ouvido tanta coisa que não devia que o organismo naturalmente ressente-se. Conclui isto depois de ouvir o Gabriel Alves e o EMINEM. Exactamente por isso deixei de ver jogos de futebol e videoclips de hip-hop com som.
No fundo, a cera nos ouvidos não é mais que um grito de revolta. O nosso aparelho auditivo produz a cera porque sente-se na obrigação de nos proteger da poluição sonora, dos disparates e do Manuel Luís Goucha. A cera nos ouvidos é o colete à prova de balas do nosso tímpano, a última fronteira, a almofada que amortece as asneiradas com que todos os dias somos bombardeados e obrigados a escutar. Ainda no Domingo, dizia eu a um amigo: “Epá, já não há justiça neste mundo! Então não é que andam para aí a dizer, que a Isabel Figueira namora com o Cristiano Ronaldo! Ao que o meu amigo respondeu: "Fogo, tens toda a razão. O que é que ela tem que eu não tenho?” Bom, o meu amigo sabe que a nossa relação nunca mais será a mesma. Ele diz que se enganou e mais não sei quê mas o que está dito, está dito.
Outra aspecto interessante sobre a cera dos ouvidos é forma como as pessoas a removem. É que apesar da cera nos ouvidos ser uma coisa maravilhosa, de vez em quando é necessário substitui-la para deixar nova cera florescer dentre de nós. Além disso, que remédio tenho eu, já que os meus ouvidos produzem cera mais que suficiente para abastecer o Santuário de Fátima.
Acho que se pode dizer muito acerca duma pessoa pela forma como esta retira a cera dos ouvidos.
Houve uma altura que eu usava a tampa de uma caneta BIC. Noutra fase conturbada da minha vida, desmembrava um clip, abria-o em forma de “U” e retirava a cera à colherada. Sim, eu a semana passada não andava bem. Também já ouvi relatos assombrosos de pessoas que confessam usar um estranho objecto, segundo creio, chamado cotonete. Modernices, é o que é. Recentemente descobri aquela que eu julgo ser a maneira mais correcta e eficaz de tirar a cera dos ouvidos: ando a deixar crescer a unha do dedo mindinho.
E tu jovem, se nunca experimentaste, estás à espera de quê?