Por aqui continuamos, incansáveis na senda dos assuntos improváveis. Por isso mesmo, hoje ocorreu-me falar sobre... hipnotismo.
A ideia de falar sobre hipnotismo surgiu-me depois de perguntar a mim mesmo: Há interesse efectivo no hipnotismo? O hipnotismo está na ordem do dia? Escrever sobre o hipnotismo interessa a alguém? Não, não e não. Então, ora aí está mais um óptimo tema para o Bidé.
O hipnotismo sempre me fascinou porque tudo o que envolve o hipnotismo é inigualavelmente ridículo.
Isto intriga-me: Como é que uma pessoa descobre que tem vocação para o hipnotismo? Em que ponto da sua existência é que alguém sente que o que querer fazer do resto da sua vida é meter pessoas a falar enquanto dormem?
Será por exclusão de partes?
- Ó mãe, eu quando for grande quero ser bombeiro! - Bombeiro. E é com essa asma crónica que tu tens. - Ah, não sei de nada, então vou ser prestidigitador. - O quê? - Prestidigitador, prestidigitador. - Já te disse que não te quero a dizer asneiras. Chamas-me isso mais uma vez e levas um par de estalos! - Pronto, está bem. Quando for grande vou ser hipnotizador. Oh, nunca posso fazer nada do que eu quero...
Outra das características interessantes do hipnotismo é a própria figura do hipnotizador. Posso até estar enganado mas para mim e até prova em contrário, todos os hipnotizadores são imitações mal conseguidas do Salvador Dali.
Daí justificar-se a pergunta: Será que a hipnose resulta melhor se o indivíduo que a está a tentar executar tiver um ar alucinado e tresloucado? Será que a hipnose será mais eficaz se for praticada por alguém com os bigodes retorcidos e as sobrancelhas eriçadas?
Há quem diga que o hipnotismo é utilizado para avivar na nossa memória, coisas que fizemos, que dissemos e que ocorreram na nossa vida mas não nos recordamos. Desculpem, já não havia nome para isso? Pelo menos eu chamo-lhe ressaca! Ou para que é que pensam que serve, o dia a seguir a apanhar uma valente bezana?
Não sei se já algum dia assistiram a um espectáculo de hipnotismo. Também não sei se tendo assistido uma vez, voltaram a cair no mesmo erro.
Eu não e infelizmente recordo-me do único a que assisti já há muitos anos. O hipnotizador começou por explicar que o hipnotismo era um estado alterado da mente e depois pediu voluntários. Eu na altura pensei: “Estado ainda mais alterado da mente do que o daqueles que estão a subir para o palco??? Épa, isto é capaz de ser giro.”
Mas não foi. Qual é a graça de se perder uma hora a ver um tipo a divertir-se a colocar gajos a dançar com vassouras, outros a tocar violinos imaginários, outros a imitar uma mota e outros a cacarejar?
Se é para gozar com alguém ao menos que fosse em situações caricatas e com figuras públicas que todos conheçam.
Agora que penso nisso, podia ter uma certa piada se se pudesse sujeitar as celebridades a ordens realmente úteis e com interesse para a comunidade.
Assistam então a esta minha primeira experiência com hipnotizador:
Pedro Santana Lopes. Estás a ficar com muito sono. Estás a ficar muito cansado. Estás a ficar muito cansado de te enfiares em todos os cargos políticos possíveis, sem conseguir levar nenhum até ao fim. Vais desaparecer até que ninguém se lembre que o tempo em que foste primeiro-ministro, foi para esta ocidental praia lusitana, um autêntico tsunami: o teu governo foi muito má onda, só meteu água e ainda conseguiste arrastar muitos contigo. Vais fazer o cruzeiro da Kapital mas durante um período de tempo nunca inferior a 10 anos.
Isabel Figueiras. Estás a começar a sentir os olhos pesados. Agora começas a sentir muito calor e estás com uma vontade incontrolável de tirar a roupinha toda. Vais tirar peça por peça muito lentamente até não restar absolutamente nada sobre esse teu corpo a ferver. Depois, vais sentar-te ao meu colo, prender-me com as tuas pernas firmes, meter os teus braços em volta do meu pescoço. E agora aguenta-te o máximo que puderes porque vais começar a ver-me como um autêntico e poderoso touro mecânico .
Vitor Baia e Ricardo. Estão a ouvir apenas a minha voz. Nada mais importa que a minha voz. As próximas vezes que estiverem na baliza e uma bola vier na vossa direcção, desviem-se dela sem hesitar. Depois riam a bom rir enquanto dizem de forma infantil, “Toma, toma, toma! Não me acertaste, não me acertaste...”
Manuela Moura Guedes. E agora estás sobre o meu poder. Vais pensar como serias se fosses uma apresentadora de telejornal a sério. Vais ao mesmo tempo resolver a tua crise de identidade parando de dizer o teu nome de cada vez que uma câmara de televisão te aparecer à frente. Todos sabem que tens uma boca grande mas não vais precisar usa-la mais para fazer comentários descabidos no final de cada notícia.
José Castelo Branco. Quando eu contar até três vais sair daqui a correr até ao Aeródromo de Tires, entrar numa avioneta e quando estiveres a 20 000 pés de altitude deves saltar e começar a cantar “La cucaracha” enquanto te tornas na primeira mulher portuguesa a fazer um chiquérrimo salto em queda livre, sem a ajuda de um paraquedas. Um, dois, três.
Vocês. Vocês não conseguem tirar os olhos do ecrã. O mundo começa a girar,
a girar,
a girar,
a girar...
Só as minhas palavras interessam... Ler o que eu escrevo é a única coisa que importa... E agora são impelidos por uma estranha força... Quando virem o próximo ponto final, essa força vai obrigar-vos a deixar um comentário a dizer que adoraram este brilhante e magnifico post, ah pois é.