Têm sido muito difíceis estes últimos dias. Não gosto de vir para aqui queixar-me mas tenho andado a passar um mau bocado. Vou contar-vos um segredo: Ando a fazer uma desintoxicação.
De pastilhas elásticas.
É a primeira vez que estou a confessar que andava a consumir uma dose diária de mais de meia caixa de pastilhas. Pode não parecer mas é muito, para quem não tem jeito para arrumar carros.
Ao princípio é tudo muito bonito, começamos na brincadeira com os amigos, há um que nos dá uma pastilha elástica de mentol para a mão, gostamos do sabor e pronto, está o caldo entornado.
Daí, até começarmos a sentir falta de uma pastilha elástica depois de um bom bacalhau assado com muito alho, vai um pequeno passo. De repente, precisamos de uma pastilha elástica no final de todas as refeições e em pouco tempo - imaginem - até damos por nós a mascar uma pastilha, sempre que pretendemos beijar uma rapariga!
Incoscientemente sabemos que por esta altura, já perdemos o controle da situação. A toda a hora, temos de sair de casa para comprar chicletes. Ele é com sabor a morango, ele é tuti-fruti, ele é maça reineta, ele é com açúcar, ele é sem açúcar... Enfim, uma tormenta indescritível que só quem já por lá passou, pode compreender.
Bati no fundo quando um fim-de-semana destes, fui fazer turismo rural pelo interior do país. Fiz mal as contas, faltaram-me as pastilhas elásticas, comecei a entrar em pânico, os meus amigos já não sabiam o que é que me haviam de fazer, corremos tudo há procura de um café, onde é que estão os cafés?, lá encontrámos um boteco. Que é que acontece? Não havia pastilhas. Não havia chicletes. Não havia nada. O que é que eu faço? Saio disparado, directo há arca dos gelados e emborco quatro Epás!
Sem colherzinha. Com os dedos. A escavar à parva até ver a pastilha ao fundo do cone.
Foi nesse dia que eu disse para mim mesmo, "meu menino, estás agarrado a esta porcaria, larga as pastilhas elásticas enquanto é tempo."
Agora tenho andado a mentalizar-me que não vale a pena destruir a minha vida só para ter o hálito fresco.
Já não meto uma pastilha elástica na boca, vai para seis dias, quatro horas e trinta e sete segundos. Trinta e oito segundo agora. Não é fácil mas estou a aguentar-me. claro que ainda é cedo para dizer que estou curado, tenho de admitir que para já, não há um dia que passe, em que eu não pense em maltitol, xilitol, estearato de sódio, cera de carnaúba e monoglicéridos de ácidos gordos. Mas é um princípio.
Quando me sinto tentado e próximo de ter uma recaída, tento dissuadir-me dizendo para mim próprio: “Ó rapaz, pastilhas elásticas? Tu não vês que mastigar pastilhas elásticas não é mais do que enganar os maxilares? Precisas mesmo de arranjar ocupação para os dentes, no intervalo das refeições? Precisas? Precisas de ruminar um bocadinho, hum? Queres-te especializar em produzir quantidades obscenas de sucos gástricos? Impostas-te de me explicar porque é que insistes em criar falsas expectativas ao estômago? Vê se tens mas é juízo, que já tens idade para isso, pá...!”
Eu sei que já estão fartos de ouvir histórias iguais a esta mas não resisti a partilhar convosco este meu drama. Pode ser que sirva de exemplo às gerações vindouras.
Só vos peço, não caiam no mesmo erro que eu, digam “Não!” às pastilhas elásticas.