Como devem saber, este fim-de-semana houve jackpot em todos os jogos da Santa Casa da Misericórdia. Já para não falar dos jackpots que o Porto, o Benfica e o Freitas do Amaral tiveram.
Achei que esta notícia seria um bom pretexto para vos colocar a seguinte questão: Mas afinal, quem é que quer mesmo ser milionário?
Bem sei que a pergunta pode parecer ridícula. Obviamente que a resposta é: Ninguém.
“Então porque é que jogam?”, perguntará alguém mais atrevido.
É que nós não somos parvos. Queremos que nos calhe algum dinheiro. Mas daí a desejar enriquecer da noite para o dia, vai uma grande diferença.
“Explica lá isso melhor, pá”, diz o mesmo tipo de há pouco, que já me começa a irritar.
Ó amigo, é fácil de perceber.
Primeiro: nós portugueses, não estamos habituados a que as coisas nos corram bem. Portanto, só estamos preparados para o pior, nunca para o melhor.
Segundo: Os portugueses são um povo solidário e altruísta. Quem é que nunca ouviu algo do género:
- Credo, tanto dinheiro! Isso até é pecado calhar só a um. Ai se calhasse a uma dúzia, fazia bem a tanta gente...
Terceiro: Deixo aqui dois factos que corroboram com esta minha teoria e que ocorreram aquando do maior prémio de sempre no Euro Milhões, e que curiosamente saiu em Portugal.
FACTO 1. Durante a semana que precedeu o sorteio, as televisões desdobraram-se em entrevistas de rua, perguntando às pessoas o que fariam se lhes fosse parar às mãos os 45 milhões de euros. A resposta que eu achei mais interessante foi a de um senhor já com uma certa idade que respondeu com toda a serenidade possível, e juro que isto é completamente verdade, “tirava cinco semanas de férias”.
Observação: Bom, este senhor claramente não tem noção do valor que estava aqui em jogo. Se tivesse, nunca teria respondido desta forma. Se tivesse, tinha apontado de certeza para pelo menos, pelo menos, oito semaninhas de férias no mesmo ano. Pra mais.
Se por acaso me perguntassem a mim o que eu faria com o jackpot sei exactamente o que responderia.
- Comprava um rádio novo para o meu carro. Parecendo que não, o rádio já tocou durante 150 000 quilómetros. - Um ou dois volumes de pacotes de pastilhas Trident White que são tão caras e estão sempre a aumentar. - Candeeiros novos para a minha casa. Todos de design, que eu não faço a coisa por menos. - Os dvs das minhas séries de televisão predilectas. - E por último perdia a cabeça e comprava a colecção completa da poesia do Herberto Helder.
FACTO Nº 2. O Correio da Manhã conseguiu descobrir os dois casais de Moreira de Cónegos que ganharam o grande prémio. Em entrevista ao mesmo jornal, os vencedores queixavam-se de que depois de lhes ter sido atribuído o prémio, passaram os dias “a fugir de terra em terra e até tiveram de trocar de número de telemóvel”.
Observação: Aí está a prova de que ser milionário é das piores coisas que pode acontecer a um ser humano. Deus nos livre. Quer dizer, está uma pessoa descansadinha no seu lar, depois de uma semana de trabalho, de repente acerta no Euro Milhões, tem de começar a fazer as malas à pressa, arriscando até esquecer-se de alguma coisa importante como a escova de dentes ou as peúgas, só porque ficou milionária. Há quem costume dizer que o dinheiro muda as pessoas e é bem verdade. Pelos vistos, muda as pessoas para hotéis de cinco estrelas. Eu acho isso mal. Ainda para mais, quando se tem um número de telemóvel que até é bem jeitoso e fácil de decorar. Sem nada o fazer prever, metem-nos 9 milhões de contos na conta e estragam tudo! É preciso ter muito azar. Para mim, isto é um autêntico drama.
Enfim, apesar das adversidades, a vida tem de continuar. Espero que tenham compreendido a sorte que têm por nunca lhes ter calhado o Totoloto.
E agora se não se importam, vou só ali conferir mais uma vez um boletins e já volto.