Casas inteligentes. Ontem à tarde falaram-me sobre este conceito cada vez mais actual e fiquei muito interessado. É espantoso como tenho a capacidade de me interessar por tantos assuntos diferentes, quando me estão a pagar umas Heinekens.
Quando apareceram os primeiros esquentadores inteligentes também comprei logo um. Meti na cabeça que se ele era assim tão inteligente podia arranjar uma forma de não me gastar gás. (Eu nesta altura também já bebia um número considerável de Heinekens.)
Explicaram-me, por estas ou outras palavras parecidas, que as casas inteligentes são aquelas concebidas para tornar mais simples a vida de quem as habita em termos de conforto, segurança e comodidade.
Ou seja, em termos práticos o que me fascinou na conversa, foi quando me disseram que toda esta funcionalidade tecnológica, além de muitas outras características, pode passar por proporcionar-nos uma habitação que responde a qualquer vontade ou desejo nosso, dando-lhe apenas uma ordem de voz ou batendo as palmas.
(Depois de ouvir isto compreendi porque é que sempre me senti fascinado por mulheres inteligentes.)
De início fiquei realmente muito interessado em ter, no futuro, uma casa inteligente. Só que depois comecei a pensar melhor e... Se calhar uma casa dessas pode levantar-me sérios problemas.
Vamos que uma noite qualquer recebo na casa, uma visita feminina bastante ousada, que me acha totalmente irresistível e que só está ali para ter sexo tórrido comigo. Ok, Eu sei que pode não ser muito provável mas por favor, acompanhem o meu raciocínio.
Bom, ela vai chegar trazendo somente uma gabardine em cima corpo, remove-la rapidamente, passar a língua pelos lábios e dizer, “TIRA A ROUPA TODA, BEM DEPRESSA”. Nesse momento, as peças de roupa que tinha a lavar na máquina, vão sair disparadas e estatelar-se encharcadíssimas, uma a uma, pelo chão. A seguir, ela vai começar a beijar-me o peito, depois vai descendo e vai ajoelhar-se enquanto realiza sobre o meu baixo ventre, uma manobra algo karaokeana e muito prazenteira por sinal. Eu não vou poder evitar incentiva-la a continuar, vou ranger os dentes e vou berrar, “ISSO, (...)! ISSO MESMO,(...)! E NÃO PÁRES DE (...)!. O mesmo será dizer que quando der por isso, já o aspirador saiu da despensa e me aspirou a sala inteirinha sem deixar ponta de pó. A coisa vai continuar a um ritmo frenético e eu vou querer compensa-la pelo inestimável voluntarismo. Ao que ela vai contorcer-se e sôfrega, arfar repetidamente: “OH SIM, MAIS FORTE. OH SIM, MAIS FORTE, MAIS FORTE”. Bom, se alguém estivesse por esta altura na minha cozinha inteligente era ver a máquina de café a tirar bicas curtas em catadupa; E ela ainda arranja garganta para vociferar, “MAIS, MAIS, MAIS. MAIS, MAIS, MAIS. MAIS, MAIS, MAIS”, até a música techno que sai da aparelhagem estar no máximo, por não ter mais volume para subir. Mas a noite é de descontrole total e ela desvairada como está, posiciona-se de modo a que eu a presenteie com uma valentes palmadas. Escusado será dizer que as luzes da casa toda, acendem e apagam a um ritmo cadenciado e alucinante.
Resumindo: Basicamente, enquanto a minha casa inteligente parece uma árvore de Natal psicótica misturada com um parque de diversões para electrodomésticos, a vizinhança está a convocar uma reunião de condomínio de emergência, tendo como único ponto de discussão a minha rápida expulsão do prédio. Não sem antes passar pelo hospital, para receber um pouco de gesso em cada membro e tirar umas chapas ao meu traumatismo craniano.
Perceberam? Isto é uma casa inteligente com certeza, é com certeza uma casa inteligente.
Ufa, até estou cansado de tanto especular. E desconfio que se calhar, até já bebi uma Heineken a mais...