No mês do meu trigésimo aniversário quis oferecer a mim mesmo uma noite de loucura com uma prostituta. Só que entretanto reflecti melhor e considerei que seria interessante fazer uma coisa algo diferente daquilo que costumo fazer todos os outros meses do ano.
Assim sendo, resolvi oferecer a mim próprio um texto sobre a triste problemática da minha papada.
A chegada aos 30 não tem sido fácil. Em primeiro lugar, o governo faz questão de me lembrar que ainda terei de trabalhar tanto ou mais anos, do que quando fiz 25. Depois, como já vejo mal ao longe, e não gosto de levar os óculos para a praia, deixei de poder ser mais um daqueles tarados sexuais, a olhar para tudo o que é mulher em bikini. (Olhar eu até podia olhar, só que não tenho especial interesse em ver borrões a passear na areia e a apanhar banhos de sol.)
Mas nesta minha cavalgada em direcção à velhice o pior de tudo, tem sido olhar-me ao espelho e assistir inapelavelmente, ao nascimento da minha papada. Quem ainda não está bem a ver do que é que eu estou a falar, digo-lhes só que a papada é um gradual, irritante e ambicioso inchaço sob o meu queixo. Estou por esta altura inclinado a pensar que a papada, também conhecida por queixo duplo, está para os homens, como as mamas descaídas estão para as mulheres. É a natureza a tentar equilibrar as coisas para que ninguém se fique a rir.
Esta disfunção facial, que surge na maioria dos homens à beira de se tornarem trintões, apresenta como principais sinais de alarme: complicações acrescidas na hora de impressionar pela positiva pessoas do sexo oposto, parecer bem em fotografias e filmagens ou, nos casos de maior desenvolvimento da papada, dificuldades em olhar convenientemente para os próprios pés.
A papada funciona um pouco como a minha mãe: está sempre a lembrar-me que estou a ficar velho, desfigurado e que se não me despacho e continuo armado em esquisito, qualquer dia não arranjo ninguém que me queira.
Por tudo isto, quando se colocou a hipótese de a minha fotografia aparecer no livro a minha resposta suou por todos os corredores da editora, “Nãããããããão!!!”.
Lembrei-me de todos aqueles escritores que aparecem nos seus livros com o punho ou a mão sobre o queixo, naquele que é um género de pose conhecida como sendo uma pose intelectual. Pois bem, a minha teoria é de que aquilo não é uma pose intelectual, nem nada que se pareça. É simplesmente para esconder o queixo duplo! É um truque para dissimular a papada! Aposto que 99% dos escritores que assim pousam, durante a secção fotográfica estão a pensar, “Caraças pá, eu escrevo umas coisas tão porreiras, não é justo que me tenha aparecido esta espécie de bócio debaixo da queixada! Merda pra isto!”
Expostas estas minhas preocupações, alguém na reunião disse logo que eu sou um exagerado, que não se nota assim tanto e que mesmo que se note, nos dias de hoje a papada não é problema porque se pode eliminá-la por computador. Saber disso fez-me sentir muito pior, claro. Lembro-me de ter pensado, “Ok... respira fundo... não entres em pânico mas... estás a chegar àquela idade em já só te safas com uma lipoaspiração informática!!!”.
Não ultrapassei ainda este trauma. Por isso, não há nenhuma fotografia minha no meu livro. Embora agora comece a ficar preparado para tudo. Ou como diria o Michael Jackson, “Enquanto houver cirurgiões plásticos, há esperança”. O que importa reter é que temos que nos saber adaptar à nova realidade e ao novo pescoço. Bem sei que este Verão quando tentar seduzir uma mulher, ela me vai atirar com o óbvio, que eu sou só garganta. E que escuso de vir de papo cheio, a achar que sou o maior. Mas por outro lado não mais voltarei a apertar o botão de cima de uma camisa, nem para usar gravata num qualquer casamento ou baptizado. E há também motivos para sorrir: tenho ainda os dentes todos. Ainda não me começam a aparecer as primeiras rugas, nem vislumbro nenhum pé-de-galinha no horizonte dos meus olhos. E com um bocado de sorte tenho ainda para viver, longos anos sem calvície...