Não podia deixar de falar do Rali Dakar, até porque este ano se iniciou pela primeira vez em Portugal. Eu tenho reparado nas expressões faciais das pessoas quando se fala do Lisboa-Dakar e a pergunta que toda a gente tem feito de sobrancelha franzida é: Mas porque raio é que se lembraram de vir começar o Dakar em Portugal?
Como não poderia deixar de ser, eu tenho algumas suposições.
Primeiro, desconfio que os organizadores da prova vieram atrás daquela máxima: Portugal é um oásis. Já não me lembro bem qual foi o político que se saiu com esta, nem estou com paciência para ir procurar no Google, o que eu sei é que veio uma comitiva deste tamanha para cá, só para descobrir da pior forma que o tal oásis não passa de um deserto de ideias. É lamentável.
Ou então, estou muito enganado e a escolha de Lisboa para o início do Dakar, foi a melhor forma que encontraram para incentivar os pilotos. Acima de tudo os pilotos estrangeiros. Alguém mais astuto e que conhecia bem isto, pensou: “Eles mal cheguem a Portugal, vão querer logo pirar-se o mais depressa possível dali para fora! Isto é bom para o espectáculo porque assim vão acelerar que nem doidos. Oh, se vão!” (Só não garanto que a tal pessoa tenha efectivamente utilizado a expressão “Oh, se vão”.)
E faz todo o sentido. Como sabem, antigamente o Rali começava em Paris. Ora bem, os pilotos estavam na elegante Cidade Luz mas sabiam que tinham de ir apanhar pó para África. Quem é que sentia motivado para sair de lá? Quem? Como é óbvio, em Portugal não há esse problema.
Constou-me até que alguns dos pilotos estrangeiros quando chegaram ao nosso país e entraram em Lisboa, começaram a olhar para os buracos, as tampas de esgoto levantadas e as fastidiosas obras por acabar e perguntaram: - Então é aqui que vamos fazer a primeira etapa do Rali?! E terá dito outro: - É pá, não sei se é lá muito boa ideia… Nós estamos habituados a competir em terrenos difíceis e agrestes mas não é preciso exagerar!
Devo confessar que não sou e nunca fui grande fã de desportos motorizados mas sempre achei o Dakar especial e muito interessante de se seguir. Interessante na medida em que como bom português que sou, todos os anos ficava ansiosamente à espera de ver grandes acidentes e histórias dramáticas. Havia sempre pilotos que se perdiam durante dias no meio do deserto, outros capotavam e ficavam encarcerados no carro durante horas com dezenas de nativos a rirem-se deles, de vez em quando um ou outro piloto era capturado por uma tribo o queria comer ao jantar. Enfim, belas memórias. Lembram-se desses bons velhos tempos?
Agora com GPS’s e altos sistemas de navegação, helicópteros por todo o lado, o Dakar perdeu a piada toda. Que é que vão fazer a seguir, alcatroar o deserto todo? Usar duplos a pilotar os veículos? Providenciar barraquinhas para vender cerveja gelada?
Custa-me dizer isto mas a verdade é que por todas estas razões, é que agora há tantas mulheres a competir no Dakar! O que é que lhes pode acontecer? Um marroquino querer trocá-la por 10 000 tapetes e um fardo de haxixe? Um beduíno querer trocar o camião por 50 camelos? Verem o Brad Pitt e ser uma miragem?
Anónimo said...
"Agora com GPS’s e altos sistemas de navegação, helicópteros por todo o lado, o Dakar perdeu a piada toda. Que é que vão fazer a seguir, alcatroar o deserto todo? Usar duplos a pilotar os veículos? Providenciar barraquinhas para vender cerveja gelada?"
Acho que este ano não é assim, já não há GPS. Voltaram à moda antiga.