Vocês sabem que o Bidé só faz investigação jornalística profunda e insofismável. Desta vez, acompanhámos o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros ao Canadá a propósito dos portugueses deportados. Estamos neste momento em condições de anunciar que tivemos acesso a toda a conversa que se passou entre Freitas do Amaral e o seu homólogo canadiano, Peter Mackay. Conversa essa que que vamos transcrever na íntegra e em exclusivo.
Advertimos os mais sensíveis para o facto deste diálogo poder conter revelações verdadeiramente chocantes.
Freitas: Ora então, muito bom dia. Eu sou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal!
Mackay: De onde?!
Freitas: De Portugal.
Mackay: Pois. Sinceramente não estou a ver. Isso é na América do Sul ou quê?
Freitas: Não. Portugal… Eusébio!... Figo!... José Mourinho!
Mackay: Pois. Assim de repente, esses nomes não me dizem rigorosamente nada.
Freitas: Se estiver a olhar pró mapa-mundo, é aquele país que fica ali do lado esquerdo da Espanha…
Mackay: Hum… talvez… sim, parece que já estou a ver. E o que é que o traz ao Canadá?
Freitas: Bem, vinha falar-lhe acerca dos imigrantes ilegais.
Mackay: Ah, sei. Mas se calhar não vale a pena, nós também temos cá muito disso. Desculpe mas não estamos interessados. Tente ali em baixo, nos Estados Unidos, pode ser que eles queiram.
Freitas: Não, não. Você não está a perceber, eu venho cá falar-lhe dos emigrantes portugueses ilegais que TÊM VIVIDO no Canadá.
Mackay: Ai é? E tem aí a lista dos nomes e as moradas completas? É curioso porque nós andamos precisamente a expulsar essa cambada toda de cá!
Freitas: Eu gostava mesmo é de lhe perguntar se não se arranjava nada para eles fazerem no vosso país. Por exemplo, nós lá temos muitos brasileiros ilegais que trabalham em restaurantes e a servir em esplanadas. Não precisam de ninguém para fazer isso? Olhe que também somos muito bons a fazer pipis e caracóis, hem!
Mackay: A política de imigração aqui é só uma: Tudo o que é ilegal, volta imediatamente para o país de origem.
Freitas: Veja lá, faça-me esse favor, dava-me um jeitão, pá. Ainda no outro dia dei uma barracada monumental com os finlandeses e agora mais esta, não sei se me aguento até ao Verão.
Mackay: Lamento mas não o posso ajudar.
Freitas: Olhe, lembrei-me de outra: e se a gente fizesse uma troca? Vocês não expulsam os nossos portugueses e a malta compromete-se a deixar ficar por lá os canadianos ilegais. Que tal, soa-lhe bem?
Mackay: Emigrantes-canadianos-ilegais? Oiça lá, mas porque raio é que um canadiano haveria de querer emigrar para Portugal? Pode-me explicar como se eu tivesse 4 anos?
Freitas: Hummm… Está muito bem visto sim senhor. Não pensei nisso. Olhe, e não podem ao menos dar-lhes mais um tempo para eles se acostumarem à ideia de deixar o seu país e voltar pró nosso?
Mackay: Em quanto tempo é que estava a pensar?
Freitas: Sei lá… talvez… uns vinte, vinte cinco anitos. Parece-lhe razoável?
Mackay: Você tem piada.
Freitas: Pronto está bem. Pelo menos, não podem dizer que eu não tentei. Obrigado na mesma. Uma última pergunta: Sabe onde é que se pode comer por aqui bom e barato? É que o Falcon custou uma fortuna e eu tou esganadinho, esganadinho com fome… Arre.
Anónimo said...
Porque é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros em vez de alugar um Falcon, não freitam um charter?
Peço desculpa a quem tenha ofendido com este mega-trocadilho à Malucos do Riso... Ui, Ui! Até a barraca abana...
http://axistomuitoestranho.blogspot.com/2006/04/benfica-esse-sim-o-clube-mais-grande.html#comments Anónimo said...
Perdão: "não freita um charter"
A piada já era má, mas não queria que pensassem que não sei distinguir o singular (O ministério) do plural (freitam). Arrebenta said...
A Rainha da Sucata
Andam por aí umas vozes em sobressalto com o que se escreve na Net, e, à cabeça, com a crescente influência das temáticas, abordadas nos “blogues”, sobre a Opinião Pública Nacional. Cumpre-me aqui dizer que sou novo nos “blogues”, e suficientemente antigo, na Opinião Pública. E como me estou, à cabeça, aparentemente – depois, verão que não... – zenitalmente borrifando para os “blogues”, vou, pois, começar pela Opinião Pública.
Ora, em qualquer país pretendido civilizado, a Opinião Pública não é mais do que um misto de emoção e raciocínio difuso, que leva a que as sociedades exerçam, em conjunto, as suas auto-análises, os seus direitos espontâneos de aprovação e desagrado, e uma necessária catarse colectiva, fruto dos sabores e dissabores do Rumo da História. Os períodos de Opressão e de Distensão medem-se, pois, pelo vigor e maturidade que essa Opinião Pública manifestar. Na sua coluna de despedida do “Diário Digital”, Clara Ferreira Alves, criatura que nunca frequentei, nem sequer sabia que escrevia, mas que, naquele panorama do Ridículo Nacional, apenas me fazia, de quando em vez, sorrir, entre as suas apalhaçadas oscilações entre o negro azeviche e o louro caniche, dizia eu, centra-se, num dado momento da sua despedida, sobre a perniciosa influência dos blogues na tradicional “Imprensa Impressa”: de acordo com ela, “A Blogosfera é um saco de gatos, que mistura o óptimo com o rasca, e (as vírgulas atrás são todas minhas) acabou por se tornar num magistério da opinião (d)os jornais”, os quais nunca foram sacos de gatos, sempre souberam recolher o óptimo, e nunca constituíram um prolongamento do magistério dos Interesses Ocultos Predominantes.
É óbvio que em todos os jornais, como em todos os "blogues", como em todos os programas de televisão de carácter rasca, -- terríveis eixos do mal --, “existe e vegeta um colunista ambicioso, ou desempregado, (as vírgulas continuam a ser minhas), ou um mero espírito ocioso e rancoroso”, que pode ser vário, como os nomes de Satã. “Dantes, a pior desta gente praticava o onanismo literário e escrevia maus versos para a gaveta, [publicando] agora as ejaculações”, as quais deveriam continuar a ser privadas, porque o exercício da cobrição, que tantas vezes levou a que um mau texto aparecesse nas parangonas da Crítica, fruto de uma noite mais ou menos bem passada, ou de uma jantarada em lugar eminente, poderia, e deveria, pelos mais elementares deveres do Pudor, nunca ultrapassar a atmosférica fronteira do Secreto e do Invisível. Para mais, parece que, nos blogues, escancarada janela rasgada sobre o Tudo, já não existe aquela claustrofóbica sensação das escassas três ou quatro janelinhas, onde a iluminação da Crítica Impressa revelava ao profano o pouco que se fazia, e, logo, podia aspirar a existir. Parece que nos blogues, dizia eu, se fala agora abertamente de tudo e de todos, e não apenas dos amigos, dos que nos assalariaram o texto, ou dos que nos pagaram para sermos gerentes da sua irremediável Insignificância.
Compreende-se a angústia da Clarinha: com a ascensão dos “blogues” e o declínio dos jornais, anuncia-se também o fim do monopólio das palas postas nos olhos dos burros, e daqueles que tinham o exclusivo poder de as pôr. Clara Ferreira Alves manifesta-se inquieta pelo seu Presente, e teme pelo seu Futuro. Mais acrescento eu que o que está em jogo é, sobretudo, o seu PASSADO e o de todos os que se lhe assemelham, porque a Cabala, que, durante décadas, tão habilmente geriram, se está agora a desmantelar por todos os lados.
Nos “blogues”, nada mais existe do que quem diariamente fale de tudo e todos, sem defender quaisquer sistemas que não os da prevalência do Excelente sobre o Medíocre, do Livre sobre o Encomendado, e, sobretudo, quem o faça GRATUITAMENTE, ou seja, por mero Dever Cívico, por vontade de intervir, por caturrice, ou tão-só pela amistosa gratidão de poder Partilhar.
É verdade que com os “blogues”, poderá estar em jogo o fim da Palavra Comprada, e já estar a vislumbrar-se o início da Era da Palavra Livre e Particular, o Reino da Palavra Gratuita. Talvez seja isso a Comunicação Global. Em breve, também aí se fará a separação do Trigo do Joio, e passará a vencer quem melhor escrever e mais for lido, dispensando-se as tradicionais encomendas das almas.
Penso, publico, sou lido, e logo existo. Tudo o resto é vão.
Ah, e isto não é um texto para resposta, sobretudo qualquer tipo de resposta, como dizia o Vasco Pulido Valente, que metesse “na conversa a sua célebre descrição do pôr-do-sol no Cairo.