PORQUE SERÁ QUE AS MULHERES NÃO ADMITEM QUE SE MASTURBAM?
[Atenção: Este post é longo, arriscado e foi escrito por um profissional. Não tente ler isto no local de trabalho!]
O número de mulheres que conheci ao longo de toda a minha vida que admitiram que se masturbam, conta-se pelos dedos da mão. E acreditem, eu consigo ser suficientemente chato e inconveniente para ter perguntado a todas.
Estaríamos muito bem se houvesse a mínima possibilidade de eu acreditar que esta é a verdade dos factos. Nem sei se a maioria dos homens corrobora com a minha opinião ou passou pela mesma experiência mas desafio os descrentes a fazer o teste. Facilmente chegarão a duas conclusões: a) As mulheres garantem que estão de relações cortadas com os seus genitais e b) parecendo que não, uma mão feminina pode aleijar.
Não sabem como esta questão pode ser perturbadora para um sujeito já de si, perturbado. Até porque, estou certo de que a relação dos homens com o pénis que lhe calhou em sorte, é bem mais natural e pacífica.
Peguemos então na relação do homem com a masturbação, para melhor se perceber as razões de uma tão grande clivagem entre homens e mulheres, no relacionamento que têm com o seu próprio sexo.
A masturbação masculina é assumida com notório orgulho. Trata-se desde logo, de um ritual de passagem para a idade adulto. É-nos transmitido culturalmente, de geração para geração e em surdina, a seguinte máxima: Os homens distinguem-se dos meninos pela pívea. (como é em surdina nunca percebi muito bem se era exactamente isto que me diziam). O certo é, que esta sociedade eminentemente machista em que vivemos, começa desde muito cedo a exigir de nós, o denominado CCU. Ou se preferirem, o “Cinco Contra Um”.
Lembro-me como se fosse hoje de um amigo dos meus pais me abordar a toda a hora com um toque de cotovelo, seguido da pergunta, “Então pá, já pintas?”. Na altura, eu estranhava a dúvida e considerava-a até um pouco ofensiva uma vez que há imenso tempo que eu pintava excepcionalmente bem. Aliás, os livros para colorir eram mesmo o meu forte. Nunca pintava fora do desenho - e modéstia à parte - dava gosto ver um livro colorido por mim. Claro que nunca lhe respondi, até porque não podia. Invariavelmente estava com duas pastilhas Super Gorila na boca e um dedo no nariz.
Mas há mais. Acrescente-se que o onanismo no homem é igualmente uma questão de saneamento básico. Como tal, quero aqui frisar que ser homem não é pêra doce. Ter um pénis é como ter um tirano hiperactivo dentro das calças. Impõe a sua vontade, obriga-nos a acatar as suas ordens e ainda nos leva a acreditar que os seus momentos de demência são o melhor para todos.
Isto é, cada homem, a cada segundo que passa (e com especial incidência com a chegada do calor), está a desenvolver no interior das suas calças uma situação ainda mais explosiva do que aquela que se vive no Médio Oriente. De tal forma que, considero da mais elementar justiça, adaptar (em jeito de hino ao hobbie mais praticado no mundo), a letra da mítica canção “Uma Árvore Um Amigo” interpretada por Joel Branco. Cantemos todos:
A Mão Direita Uma Amiga
A mão direita é uma amiga Que devemos bem tratar Uma amiga de verdade Tão fiel como a amizade Que temos de agitar.
Sabes: a mão direita Tem um pouco de beleza É a nossa natureza Usa-la no interior do nosso lar
Dá-nos para pensar Em tanta gente que fascina: A Clarissa, ou a Regina Mais a dona Guiomar
Oh, vamos fazer-lhe umas festas, vem, À falta de amigas para as sestas Ricas ou modestas, vamos esgalhar
A mão direita é uma amiga Que devemos bem tratar Uma amiga de verdade Tão fiel como a amizade Que nós temos de agitar.
E por aí fora. Foi só para que se perceba a importância desta questão e para que não se pense que estou aqui falar de algo fútil mas sim de uma parte substancial da vida dos indivíduos. E estou a falar de todos! (Não sei se chocarei alguém ao afirmar que há muitos que o praticam antes de estarem com a namorada ou a esposa. O motivo? A durabilidade do amor. Ah, pois.)
Voltemos então à variante feminina para tentar de uma vez por todas explicar o reduzido número de mulheres que não fala do seu próprio acto masturbatório com abertura. Creio ter encontrado duas explicações plausíveis para o facto das mulheres continuarem em negação.
Hipótese 1 - As mulheres não perdem uma oportunidade de mentir com quantos dentes têm na boca. Hipótese 2 - Para elas, a parafernália de tecnologia eléctrica que usam para se satisfazer não conta como masturbação. É um acto de mera manutenção do equipamento. Estão noutro patamar de desenvolvimento, digamos. A masturbação é para elas, como diria José Sócrates, um choque tecnológico. Ou vários.
Debrucemo-nos sobre a hipótese 1 que é a que mais me interessa. Porquê fingir que não existe? Bem, o que me vem imediatamente à cabeça é que elas estão tão habituadas a fingir, que já fingem por tudo e por nada.
Mas creio que há uma resposta mais profunda. Nas sociedades ocidentais, é concedido às mulheres o direito de manterem o seu clítoris (infelizmente e de uma forma incompreensível, ainda nos nossos dias não é assim em muitas partes do mundo). O que não significa que não exista por cá a castração moral. A par disto, eu estou a escrever tão bem sobre sexualidade que já merecia ser chamado a umas conferências sobre o assunto. Adiante.
Do ponto de vista prático isto significa que as mulheres sentem necessidade de preservar a sua imagem a todo o custo. Se para o conseguir têm de ocultar e mentir sobre a sua sexualidade, tanto melhor. A um nível subconsciente, e mesmo tratando-se daquelas realmente amigas, estas não se encontram disponíveis para abrir no nosso imaginário uma janela para a sua intimidade. Acreditam que depois de sabermos pormenores da sua vida mais privada não as vamos jamais ver da mesma forma; entendem que a partir do momento em que se revelarem senhoras da sua própria vagina, estão a dar-nos o livre-trânsito que faltava para as imaginarmos deitadas na cama a acariciarem-se. Estão completamente enganadas. Nós já nos damos ao luxo de as visualizar assim desde o dia em que as conhecemos! Podem ficar inteiramente descansadas que nada vai mudar.
Moral da História I : Vá lá, não sejam assim, pá. As nossas conversas de café poderiam ter o dobro do interesse. Moral da história II: Eu percebo e respeito, embora não goste. O que vocês mais temem e nós estamos mortinhos para ver, são cada vez mais situações deste género:
- Olá Pedro, quero apresentar-te uma amiga minha. - Ah, claro. - Esta é a Susana e tem por hábito tocar-se. - Ai sim? - De preferência na banheira. Durante um banho de espuma demorado. - Muito bem. Olá Susana. É um prazer. - Não, não, o prazer é toooodo meu…
Maria Ostra said...
Livra, que é preciso ter tempo para ler este post! :) Também não sei porque raio as mulheres não admitem que se masturbam! É bom! Alivia! E faz um bem danado à pele! mfc said...
A masturbação feminina é muito mais recente que a nossa. A delas já é digital ao passo que a nossa ainda é manual!! Anónimo said...
andas a conhecer as mulheres erradas... Anónimo said...
e durante o acto, hmmmm? bueno! e bueno é bom! Anónimo said...
e poderia continuar a divagar mas isso já seria o alcool...vou ali buscar o meu amiguinho com pilhas... Anónimo said...
Meu caro...desde o final da adolescência, quando pela primeira vez deixámos um qualquer jovem cheio de boas intenções mas ainda mais cheio de testosterona saltar-nos para cima, que depressa percebemos que vamos ter de aprender a contar uma mentirita de vez em quando...ou teríamos de ser capazes de lhe dizer ali mesmo que 'não, não sei se gostei assim tanto como tu'. A grande questão é: mas vocês fazem ALGUMA IDEIA do que é a anatomia feminina??? com 18 anos ainda se percebe que não tenham grande noção, o embaraçoso é quando chegam aos 30 e continuam a pensar que o clitóris é uma espécie de campo de batalha onde basta chegar e descarregar a artilharia pesada de modo a arrasar completamente com tudo o que existe nas redondezas. Uma dica: não se matam moscas com tiros de caçadeira. Subtileza e precisão fazem toda a diferença. Seja como for, a chave disto é que nós gostamos de vocês na mesma. Viva a masturbação, feminina ou masculina, mas é obvio que não a vamos admitir...isso seria como dizer uma de duas coisas: ou 'não tenho sexo suficiente', o que na mente de um homem só se pode explicar por 1) és um aborto e ninguém pega em ti ou 2) és ninfomaníaca; ou então 'ando há estes anos todos a não conseguir fazer alguma coisa em relação ao facto de que o meu namorado/marido/seja-o-que-for não me satisfaz', que é coisa que ninguém gosta de admitir a si própria (quanto mais aos outros)! Bom seja como for esta conversa está-me a deixar com vontade de ir fazer um telefonema...pois a masturbação de vez em quando não é nada má, mas não resolve tudo :-) by the way não tenho nenhum amiguinho com pilhas, nem gostaria de ter. ora aí está um sitio onde não me passa pela cabeça usar um aparelho eléctrico! Nuno said...
Excelente, e essas palestras talvez não fossem má ideia.
Ps: A avaliar pelos comentários, diria que meteste o dedo (lol) na ferida.
Abraço AEnima said...
fiquei com pena da maioria das pessoas que comentaram este post nao se ter identificado. Dizem que nao tem vergonha de o admitir... que contradicao.
Bem, mas como uma anonima disse ai acima, eu tb nao gosto da ideia de vibradores, electricos ou com pilhas... whatever. A ideia de ter um "instrumento" nao natural "ali" nao me agrada nada, dai nao ter nenhum. De resto ate se pode dizer que sou desinibida.
Realmente, como a mesma anonima explica e muito bem, e uma pena a grande maioria dos homens nao ter muita nocao da sensibilidade genital feminina, o que geralmente faz com que ou lhe facam umas "festinhas" muito mal amanhadas, ou entao magoem a mulher. E nao ha pior turn off do que esse. I'mNesic said...
Cá pra mim ainda não falaste com uma mulher a sério...(like me!)!!! Boa? Andas a falhar Gervásio...a lavandaria nunca + foi a mesma desde k deixaste de lá ir! Continuo à espera de notícias tuas* wendy Joana said...
CLAP! CLAP! CLAP!...Digno do segundo livro :) Bom texto! Joana said...
Ah, e outra questão...não obstante o ridículo do tabu, acho que deve haver um equilíbrio elegante entre ter a noção daquilo que é da esfera do privado e aparecer 'masturba-se ou não' entre os parâmetros do B.I., (salvo seja). É despropositado o tabu e o sentimento de vergonha, da mesma forma que o seu inverso, tão enraízado na população masculina. Talvez entre um ou dois dedos de conversa, homens e mulheres cheguem a uma zona de meio termo razoável ;) Bom texto. Bom texto. Maria said...
Também não compreendo o porquê de tanto segredo... é óbvio que não é preciso chegar ao extremo de dizer, olá, sou a X, e sou fã da masturbação. Mas não compreendo como se tem intimidade com alguém para contar tudo e mais alguma coisa e se nega um prazer tão óbvio. Certamente motivos culturais... Vivian said...
Tens tido pouca sorte com as gajas. Eu então falo demais sobre a matéria :) melga said...
Essa questão é realmente pertinente, mas deixo outra: será que elas dizem que não se masturbam para nós pensarmos que elas se masturbam, mas na realidade não se masturbam e apenas querem que a gente vá pesquisar o facto por nós mesmos? Confuso? Eu sou assim. Indie-Go! said...
por acaso sempre me interroguei disso.. ainda devem é masturbar-se mais que nós e nao o querem admitir com medo de repugnação masculina :P Anónimo said...
A masturbação é um acto de auto-conhecimento. Se certas mulheres não se masturbam, muito difícilmente sabem o que as deixa doidas... Foi através da minha auto-descoberta que hoje posso dizer, tenho uma vida sexual fantástica, porque soube transmitir ao meu parceiro aquilo que me deixa completamente maluca. Se ainda me masturbo, apesar de estar numa relação perfeita? Claro que sim. Há alturas em que uma gaja tem de fazer amor consigo própria... Se eu não gostar de mim... quem gostará? Ah pois é! Pedro Duarte said...
Lendo alguns comentários mais convicto fico que as mulheres se preocupam demais com o que os outros pensam delas, pelo menos as mulheres portuguesas.