Tive o privilégio de assistir à estreia deste novo espectáculo do Bruno Nogueira. Os textos dele e do João Quadros (um dos grandes mestre do humor negro em Portugal) são verdadeiramente avassaladores. Durante aquela hora e picos, um tornado passa pelo S. Luiz. Ou melhor, o Bruno transforma-se num sniper enfurecido a disparar em todas as direcções. O 11 de Setembro, a morte da Princesa Diana, pivots de telejornal, a fome em África, estrábicos, a Irmã Lúcia e os restantes Pastorinhos de Fátima, (quase) ninguém é poupado.
Em vez de estar para aqui a escrever como aqueles críticos que gastam 2 mil caracteres para falar de uma peça, um filme ou um livro e no final não chegamos a perceber sequer se o tipo gostou ou não, eu digo-vos já: achei muito bom. Embora tenha a certeza que o espectáculo vá melhorar mais (o compreensível nervosismo inicial vai desaparecer, ele vai perceber o que resulta melhor, encontrar o ritmo certo, onde se deve alongar e onde se arrasta demasiado, et cetera), creio que ficou dado o mote para que se veja neste, um momento ímpar no humor em Portugal. Possivelmente nunca por cá, um homem sozinho em palco foi tão longe.
O público de estreia não é o melhor para se avaliar as reacções mas creio que apesar de tudo foram positivas. Porém, enquanto eu ria a bandeiras despregadas (alguém percebe esta expressão?), senti que muita gente pensava “Ok, isto esta teve graça mas será que é correcto eu rir-me disto?”. É assim, o humor do Bruno. Fresco, violento, irreverentíssimo, frontal, lapidar. Não serve para quem tem vergonha de rir. E em Portugal anda há quem olhe para trás das costas antes de dar uma boa gargalhada. Se é desses não vá, fique em casa a ver os programas do Camilo de Oliveira (que segundo o Bruno, já morreu e esqueceram-se de o embalsamar). Se é dos outros, que acha que o humor tem uma elasticidade sem limites e pode ser esticado até onde quisermos, este é definitivamente um espectáculo para si.
O Bruno, que eu muito admiro - e para quem até criei propositadamente um personagem numa sitcom que escrevi com o Nuno Markl e que continua emprateleirada ad eternum – ainda vai maturar a sua persona e crescer mais (esperemos que não muito mais senão deixa de caber num palco). Agora, a continuar assim tão provocador, arrisca-se a crescer enfiado numa cama de hospital com as pernas e as costelas partidas, o baço perfurado e a marca de pneus na testa depois de atropelamento e fuga quando for a atravessar uma passadeira. A propósito, acho que ele falou pouco da Carolina Salgada…
E já agora, não resisto porque esta ficou-me até hoje no ouvido:
Será que a Ana Malhoa tem consciência de que se vivesse na Índia, era sagrada?
Anónimo said...
Parece coincidência... E deve ter sido no mesmo dia, e perto da mesma hora... Também vi um espectáculo, na verdadeira acepção da palavra, do género... Só que em vez do Nogueira, que muito admiro, era o Tochas, que admiro muito... Vê lá se usas as tuas influências e dizes ao Bruno para vir ao Porto... E, já agora, VEM TU TAMBÉM, ANIMAL... O GAJO DA PÓVOA Anónimo said...
Também quero ir ver o espectáculo. Tem talento... W. said...
Gosto da elevação deste texto, com expressões em latim e tudo! Ana Malhoa said...
O melhor monólogo que já vi foi o sexo drogas e rock & roll c o diogo infante. Inesquecivel.