Não percebo para que é que as pessoas insistem em ter um peixe dentro de um pequeno aquário redondo. Ninguém merece viver assim. Estas são as mesmas pessoas que estão preocupadas com a situação dos prisioneiros em Guantánamo. Esses ao menos podem passear livremente, meia hora por semana, no pátio. E durante os intervalos da tortura até podem ler um livro. E mesmo quando lhes colocam a cabeça dentro de água nunca é por mais de 4 minutos. Bem, devo confessar que há muitos anos atrás também eu tive um peixinho dourado dentro de um aquário. Chamei-lhe Baltazar. Ao princípio achei graça porque foi prenda de uma namorada mas cansei-me depressa. E do peixe também.
Ser peixe de aquário deve ser a forma de vida mais entediante que existe (se não contarmos com o Pacheco Pereira). Tudo bem que sofrem de Alzheimer desde o dia em que nasceram, o que atenua um bocado a frustração, mas será justo que convivam perpetuamente com a sensação de déjà vu? Para alguém que tem uma memória de 2 segundos, deve ser um verdadeiro suplício estar sempre a descobrir que vive num espaço de meia dúzia de centímetros cúbicos. Creio que até quando há dois peixes a partilhar um aquário, é como coabitar com um perfeito desconhecido. “Olá, o meu nome é Baltazar. E tu? Olá, eu chamo-te Belchior. E tu? Olá, o meu nome é Baltazar? E tu? Olá, sou o Belchior. E tu…?”
Além do mais, pode parecer que não mas um peixe de aquário faz muito pouca companhia. Não o podemos levar a passear para o jardim, não podemos atirar objectos para ele apanhar, nem sequer se aninha em nós no sofá. Acreditem, eu tentei e simplesmente não resulta. E depois, também não são seres lá muito obedientes. Dizia-lhe: “Baltazar, rebola! Senta! Faz um looping! Baltazar, faz bolhinhas!”. E ele, nada.
Felizmente para ele, era um peixe com tendências suicidas. Volta e meia saltava do aquário e lá tinha eu de o apanhar do chão para o pôr de novo de molho. Tudo terminou quando fui de viagem durante 4 dias. Sem poder cortar os pulsos, optou pela morte a seco.
Ainda hoje mantenho o aquário no mesmo sítio e acho que foi melhor assim. Dá-me muito menos trabalho. Agora só raramente é que lhe mudo a água…
:( Pedro F. Guerreiro said...
Grelha com eles. Dr Frank said...
Bem isto faz lembrar algo de "Monty Python" onde já não me recorda se era o genérico ou umn sketch, haviam dois peixes a passau um pelo outro e a cumprimentarem-se sempre que se cruzavam. Por vezes dava-me vontade de ser peixe...