Vamos trazer todos os dias (com excepção dos dias de jogo) as informações e as novidades bombásticas a que mais ninguém têm acesso (por serem demasiado estúpidas), sobre a participação portuguesa no Euro 2008. Tudo no site Indiscutível.
Normalmente mudamos de ano mas fica tudo na mesma. Só os calendários e as agendas são outras. Mas não este ano. Algo mudou em Portugal: agora é proibido fumar em recintos públicos. Finalmente um método eficaz para reduzir o vício do tabaco! Todos devemos estar agradecidos.
Um estudo indica que cerca de um quinto dos portugueses são fumadores. Parece que grande parte desses, começou a fumar porque as medidas dos sucessivos governantes os deixavam muito nervosos. Mas agora tudo é diferente. José Sócrates deve rejubilar de alegria. Depois de declarar o sucesso da presidência portuguesa da União Europeia, pode agora acrescentar que nunca esteve tão próximo do estilo de vida americano. Já que não vamos lá através de crescimento económico, tenta-se o falso puritanismo. Resulta sempre. E em boa altura chega a Lei Antitabaco. Só porque agora deram em baixar as comparticipações nos medicamentos, encerrar postos médicos, maternidades e urgências hospitalares, já andavam os mais ignorantes por aí a dizer que o governo não se preocupa com a saúde dos portugueses. Como se vê, nada mais errado.
Até a Assembleia da República dá o exemplo. Na AR, vai poder-se fumar apenas nos claustros e no exterior, no entanto, não creio que a produtividade dos deputados possa baixar muito mais. Costumam estar tão poucos no hemiciclo, que ninguém vai conseguir perceber se lá estão menos para as votações, só porque estavam num cigar break. Nas prisões, o caso é mais complexo - os cigarros substituem a carência de socialização - mas seria mais grave se resolvessem proibir o uso de sabonetes no chuveiro (o gel de banho é bem mais difícil de apanhar do chão).
Concordo que a rua é o local certo para fumar. Há razão para uma pessoa estar num café a fumar um cigarrito com a sua bica, quando pode estar ao ar livre a aspirar o fumo de tubos de escape de milhares de automóveis? Um fumador que se preze não deve perder oportunidades destas.
Áreas para fumadores nos restaurantes é uma medida acertada mas talvez seja necessário ir um pouco mais longe. Espero que em breve seja obrigatório haver em todos os restaurantes uma zona para pessoas que fazem barulho a sorver a sopa. O ruído de pessoas a mastigar batatas fritas ou a aspirar caldo verde incomoda-me bastante. Claramente, deve haver um espaço para os indivíduos sem maneiras à mesa.
Limitar o tabaco é muito bonito mas devemos dar já o próximo passo: acabar com o sal, as gorduras e o açúcar em espaços fechados. Felizmente, ouvi dizer que o Ministério da Educação pretende criar hábitos para uma alimentação nutritiva nas escolas e acabar com estes alimentos mais perniciosos para a saúde. A miudagem tem de ir interiorizando que a vida é feita de sacrifícios. Como o Ministério da Educação não parece ter as mesmas preocupações em relação às saídas profissionais dos jovens, a parte menos boa é que vamos ter muita juventude no desemprego; a parte boa é que a partir de agora, a juventude vai ter bastante saúde para combater as privações. Este governo pensa em tudo. Por tudo isto apoio a retirada de produtos nocivos do ambiente escolar mas era importante colocar nas cantinas e bares, enormes letreiros a negro com diversas advertências e avisos. Lembrei-me destes:
PROTEJE AS OUTRAS CRIANÇAS: NÃO AS OBRIGUES A PROVAR O TEU PALMIER RECHEADO
PARA TE AJUDAR A DEIXAR O SAL, CONSULTA O TEU MÉDICO OU CONTACTA O TEU FARMACÊUTICO
BEBER REFRIGERANTES PROVOCA O ENVELHECIMENTO DA PELE
COMER GOMAS PODE PROVOCAR UMA MORTE LENTA E DOLOROSA
NÃO PÔR AÇÚCAR NO GALÃO REDUZ OS RISCOS DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES
SE ESTÁS GRÁVIDA, COMER BOLOS PREJUDICA A SAÚDE DO TEU FILHO (E PREPARA-TE PARA LEVAR UMA SOVA QUANDO CHEGARES A CASA!)
Li na primeira Expressões um artigo sobre o elevado número de acidentes rodoviários no distrito e fiquei com a pulga atrás da orelha (quem me manda a mim ler a revista num banco de jardim, enquanto faço festas a um cão vadio?). Como se sabe, o período de Natal e Ano Novo é sempre bastante negro nas estradas portuguesas, embora haja quem não encare esse facto de uma forma tão negativa. É o caso de oficinas, fabricantes, marcas e stands de automóveis que são gente mais optimista. Eles até estão dispostos a confirmar que é assim que a economia cresce e avança!
Na Passagem de Ano é costume pegar-se em doze passas e formular outros tantos desejos. Sempre considerei que até para uma grávida, são desejos a mais. O que faço normalmente é pegar em apenas uma e desejar que, no novo ano, o meu carro não fique feito numa passa. Quem circula nas estradas portuguesas com frequência sabe que este é um desejo tão difícil de concretizar como ganhar o Euromilhões ou a União de Leiria ter, vá lá, 100 adeptos no estádio.
Mais inquietante que a elevada sinistralidade automóvel só mesmo o elevado números de condutores que gostam de espreitar de perto automóveis sinistrados. O que se percebe daqui é que observar acidentes é o passatempo predilecto dos portugueses. Esta é a prova de que somos um povo solidário. Se alguém se estampa, somos impelidos a parar o nosso veículo onde quer que seja, na tentativa de provocar logo outro acidente para ninguém se ficar a rir.
Nós portugueses, enquanto presença regular em acidentes, estamos lá para ajudar? Estamos lá para facilitar? Não e não. Não gostamos de meter o bedelho no trabalho dos outros. Há pessoas pagas para isso. Então o que nos faz interromper a nossa viajem, por mais pressa que tenhamos, deixando o carro estacionado de qualquer maneira só para dar uma vista de olhos em chapa amachucada? Eu explico. Todo o português que se preze tem dentro de si um gerador instantâneo de teorias sobre acidentes. Ou seja, o observador de acidentes, está lá para tentar perceber se acertou em cheio no seu palpite. Esta invulgar aptidão bem portuguesa permite-nos tecer deste as teorias mais triviais, “Só pode ter sido excesso de velocidade, pá”, “O gajo adormeceu ao volante”, até às mais rebuscadas, “Foi de certeza um OVNI! Vinha em contramão com os máximos ligados e encandeou o condutor desta furgoneta capotada.”
Também tenho constatado um fenómeno que ocorre em Portugal e de que, estou certo, somos precursores: se há um acidente numa via rápida ou numa auto-estrada forma-se instantaneamente uma fila. Mas atenção: é uma fila no sentido oposto! O curioso é que este é o único género de filas em que os portugueses não protestam nem buzinam. E percebe-se: estas filas dão um certo jeito. Se se conseguisse circular com velocidade, não se viam bem os estragos nos veículos acidentados nem se conseguiam tiravam boas fotografias com o telemóvel.
Recentemente, e graças ao próprio governo, os portugueses ganharam um motivo acrescido para parar abruptamente nas bermas das estradas: com o encerramento de inúmeras maternidades, temos a hipótese de assistir ao vivo e com bastante frequência ao nascimento de bebés. É no fundo, um espectáculo comovente que o governo nos quer proporcionar. O Estado percebeu que faltavam motivos de alegria ao povo e não hesitou em fechar algumas maternidades para o conseguir. Muito bem visto e digno de registo.
E agora, caro leitor, resta-me desejar-lhe um excelente 2008. Mas não se esqueça: se conduzir, cuidado com as passas.
Nós, no Boa Noite Alvim, estamos sempre a inovar. Exactamente por isso e para comemorar o final da 2ª série do programa, resolvemos entrar no espírito natalício. Como? Sendo solidários para com o Pai Natal. Como bons observadores que somos, apercebemo-nos de que o Pai Natal estava a ficar com uma imagem muito pesada e muito desgastada e não podiamos permitir que esta situação continuasse por mais tempo. Assim, resolvemos oferecer-lhe uma mudança completa de imagem, naquilo a que chamámos de “Christmas Makeover”. Vejam os resultados.
Agora que Leiria se prepara para ter novos shoppings, está instalada a guerra entre o comércio dito tradicional e as grandes superfícies. Como não poderia deixar de ser, nestas circunstâncias estou sempre do lado dos mais fracos. E neste caso, claro, os mais fracos são os hipermercados. Tão fracos que até tenho dificuldades em encontrar argumentos para os defender. Mas vou tentar. Não porque esteja a ser pago por eles mas por um motivo muito mais nobre: fica bem no currículo de um indivíduo causar polémica logo à primeira crónica.
Começo por dizer então que não concordo nada com a apropriação que o pequeno comércio faz do termo “tradicional”. Se há tradição que os portugueses têm, é aproveitar qualquer bocadinho para ir a um centro comercial. Podiam ir a um museu, podiam ver uma exposição, podiam até ficar em casa a ler um bom livro, mas não. Fazem questão de manter os hábitos há muito enraizados. Os portugueses sentem, como eu sinto, que há um compromisso com o grande capital que não se pode quebrar, ou correremos o risco de deixar de ser o país da Europa onde se constroem os maiores centros comerciais. Quem é que está preparado para perder um título destes? Não eu, certamente. Outro aspecto que quero salientar é que enquanto as pequenas lojas são espaços acanhados, os shoppings são espaços sociais amplos que não fazem distinção entre classes ou credos. Se prestarem atenção, podem ver famílias inteiras (com fato de treino), a passear lado a lado com gangs organizados. É bonito e é salutar para a nossa democracia. (Obviamente que os gangs também podem circular pelas ruas do centro da cidade, no entanto, às vezes está de chuva e há o perigo das pistolas e das naifas enferrujarem.)
Não se pode entrar numa loja de bairro sem que venham logo ter comigo. Parece que fazem questão de me deixar pouco à-vontade. Não é possível ser um tímido e necessitar de entrar numa retrosaria. E mesmo numa lojinha de roupa, partem do princípio que a) quero alguma coisa ou b) estou lá por engano. Digam-me com sinceridade: não podemos entrar numa loja de roupa se c) nos sentimos reconfortados perto de malhas e algodão fofinho? Pelos vistos, nem pensar. Imediatamente chega uma empregada ávida por inquirir: “Precisa de ajuda?”. Isto deprime qualquer um. Ponho-me logo a pensar que ando com ar abatido e com cara de quem atravessa uma fase complicada da vida. Já mais do que uma vez me apeteceu responder: “Sim, pode ajudar. Se não se importa, eu deitava a cabeça no seu colo e você fazia-me um cafuné”. Já passei pelo cúmulo de entrar numa frutaria e me abordarem com, “Boa tarde. Tem alguma dúvida?”. Para além de ser uma questão demasiado filosófica para se levantar junto de fruta, o que um cidadão mais indisciplinado do que eu tinha retorquido era, “Sim, sim. Faço sempre confusão: isto aqui são bananas e isto são ananases, certo? Ou será ao contrário?”. É por estas e por outras que eu gosto do ambiente impessoal das grandes superfícies. Se quiser que alguém repare em mim quando ando às compras, saio de casa com um colete reflector vestido. E por esta semana é tudo, se não houver polémica nenhuma fico muito decepcionado. Talvez até tenha que entrar numa lojinha de roupa…
Crónica publicada no nº1 da primeira revista de grande informação do distrito de Leiria, Expressões - News Magazine. Boa sorte para este projecto arrojado! E já agora também para mim, que vou ter de fazer juz ao nome de uma coluna semanal intitulada “Graça Crónica”.
Não posso deixar de dar os parabéns a Manoel de Oliveira que hoje completa 99 anos de idade. Independentemente dos gostos pessoais, o Manoel já provou ser um cineasta fora do comum: é o único que dispensa a palavra “Acção!” quando começa a filmar. E quando vemos os seus filmes, logo nos apercebemos que também mostra uma certa renitência em dizer “Corta!”. Creio que isto é bem revelador do seu estilo impar na cinematografia contemporânea. Digo mais: na actualidade, Manoel de Oliveira é um mestre do cinema de autor. (Nota: “Cinema de Autor” é o género de cinema, normalmente europeu, que tem o mérito de não fazer concessões comerciais. Ou seja, é muito possível que só mesmo o autor venha a gostar. Daí o "Cinema de Autor" também se poder designar por “Cinema Para o Autor”.)
Manoel de Oliveira está agora mais perto de chegar aos 101 anos e realizar mais um sonho: ir à MultiOpticas comprar uns óculos e ainda sair de lá com dinheiro no bolso.
O meu sonho é um dia ainda vir a abrir um negócio de venda de frases iniciais para livros. Bem vista as coisas, a primeira frase de um livro é a única que realmente tem alguma importância. E é tão mais determinante quanto se sabe que toda a gente a lê antes de decidir a compra. Com a feroz concorrência que existe, se não for sobejamente apelativa, pode um livro ser preterido em função de outro, porventura menos bom, mas com melhor frase de abertura. Penso que há aqui um mercado por explorar. A minha carteira de clientes englobaria jovens escritores a precisar de um empurrão, escritores a atravessar bloqueios criativos e revendedores autorizados.
Não pensem que oferecerei umas frases quaisquer. Falo de modelos exclusivos e únicos, escritos à mão em caneta de tinta permanente numa folha de papel imaculada. Mesmo que não sejam de muita utilidade, sempre enfeitam uma secretária. Se o negócio começar a correr bem, pretendo alargar o ramo de actividade e oferecer ao público a possibilidade de adquirirem por um preço razoável, o primeiro parágrafo e até a primeira página da sua próxima obra. Se fosse demasiado ambicioso podia ir até ao primeiro capítulo mas já me parece moralmente pouco aceitável. Para isso, escrevo eu os livros e recebo os royalties por inteiro - claro que aqui surgiria um problema: teria muito menos tempo para me dedicar a escrever as primeiras linhas e a minha empresa podia ressentir-se. Ainda é um caso a pensar.
Agora, só para perceberem a ideia, deixo-vos algumas frases que já registei e que em breve estarão à venda no eBay. Terei todo o prazer em cedê-las pela melhor proposta.
Vou contar-vos como é que tudo aconteceu antes que a nave espacial chegue para me levar.
Tornei-me no homem mais famoso do Nebraska quando depois de me divorciar de Anne, resolvi cortar a casa ao meio.
Já só faltam dois dias para morrer e ainda não sei o que vestir.
Era o fim de tarde de um dia tórrido no escritório quando Jaime descobriu uma cabeça de homem sem sobrancelhas no cesto do lixo.
Naqueles tempos, convivi muito com pessoas que tinham esqueletos no armário – a maioria delas habitava casas onde viveram homossexuais em negação.
Nunca percebi o porquê de dizerem que os relógios dão as horas quando na verdade, eles tiram-nas.
As amantes e os barões assassinados na acidental orgia lituana, por males nunca dantes ponderados passaram para o além na tosca cabana.
A Anabela era uma actriz de poucas falas mas chiava como ninguém na cama.
No primeiro semestre de 2079 ainda revelava sinais evidentes de caspa.
Descobri que o Homem nunca foi à Lua na pastelaria da Lurdes, enquanto tomava um galão e comia uma torrada com pouca manteiga.
Esta crónica pode conter opiniões ou linguagem capaz de ferir a susceptibilidade de motociclistas mais sensíveis ou com menor sentido de humor.
O Verão é por excelência a época do ano em que as motas saem das garagens e vão passear os seus donos. É um fenómeno curioso porque muitas dessas motas acabam por se dirigir a locais onde podem encontrar muitas outras motas. Posto isto, é inevitável tecer algumas desconsiderações sobre as concentrações motards. Primeiro que tudo, para um tipo que como eu se definiu desde a primeira hora como total ignorante no universo dos motociclos, quero partilhar uma informação bombástica: Uma vez estive em Faro durante a concentração. Foi por acaso mas aconteceu e há provas que me incriminam. Estava por lá a gozar uns dias de descanso e resolvi juntar-me a uns amigos que se deslocaram propositadamente para o evento (não sei se esta confissão diz mais sobre o género de companhias com eu me dou se sobre as minhas escolhas para férias). Adiante.
Quero dizer que fiquei um pouco desiludido com o que vi. Apesar de sempre ter estado por fora, admirava de alguma forma o ideal motard que, julgava eu, era algo como um chamamento ao espírito de liberdade e evasão. Ora, o que vi em Faro foi o seguinte: filas para tudo quanto era sítio, buzinadelas a dar com um pau e nem um único sítio para estacionar. Em resumo: o dia-a-dia normal! Bom, se era para isso, tinha ficado entretido no trânsito de Lisboa.
Um género muito específico que deparamos nas concentrações é o motard condutor de shoopers. Há que dar a mão à palmatória, a esmagadora maioria tem um estilo muito próprio: parecem querer transmitir ao mundo a ideia de que não tomam banho com muita regularidade. E a verdade é que conseguem. Pus-me a pensar que as marcas fabricantes de shoopers não as vendem a qualquer um. Não, há por certo uma série de requisitos a preencher. Aposto que no manual a primeira página é dedicada exclusivamente às características do utilizador, o Guia do Bom Utilizador de uma Shoopper:
1) No mínimo, envergue um colete, uma peça de vestuário em cabedal e uma ou outra corrente.
2) Recomenda-se o uso de t-shirts pretas onde constem desenhos de serpentes, caveiras ou Satanás.
3) Não hesite em despir a t-shirt e expor a pança (pelo menos 3 vezes ao dia).
4) Ter visto o filme “Easy Rider” pelo menos 35 vezes.
5) Ostentar uma pujante e desgrenhada barba de 6 meses.
6) Ter número impar de dentes na boca. Desde que o total não ultrapasse os 15.
De repente, dei por mim a pensar que este tipo de ajuntamentos não são mais que pretextos para uma multidão de homens escapar de casa, livrando-se da mulher e dos filhos por 3 ou 4 dias - percebi isso pelo sorriso de felicidade que todos tinham estampado no rosto. Afinal, durante esse tempo as únicas responsabilidades passam por emborcar quantidades industriais de cerveja e tentar equilibrar-se. O que, pelo que me foi dado observar, não é tarefa fácil.
Aliás, tenho uma teoria sobre a maneira como começaram as concentrações de motas. Começaram precisamente pela parte da cerveja. Juntaram-se meia dúzia de cabeças pensadoras sem nada para fazer até que um terá dito: “É pá, precisamos de uma boa desculpa para juntar homens maduros vindos dos 4 cantos da Europa”. Ao que outro terá retorquido, “Bem, só se for cerveja”. Foi bem pensado porque a nossa cerveja é realmente boa e qualquer um se sente tentado a fazer 3000 quilómetros para beber umas quantas. E fui assim que um terceiro deu por encerrada a reunião e se iniciava toda uma nova Era: “É isso, vamos arranjar um local onde uma catrefada de homens pode vir beber cerveja até cair para o lado. Venha mais uma rodada!”. A ideia de ter que se ir de mota só veio a seguir, quando se chegou à conclusão que era a forma mais rápida de chegar à Concentração de Barris. Depois, deu-se o nome de concentração motard só para disfarçar, para que as esposas desses indivíduos não soubessem o que se passava realmente nesses encontros. Agora que penso nisso, Concentração Motard até é um nome muito bem escolhido: se há coisa que é preciso para subir para cima das motas, depois de se beber 47 imperiais, é concentração.
Antes que comecem já a dizer que estou a transmitir uma ideia muito limitadora das concentrações, que não se resume tudo a ingerir álcool, há que dizer que concordo plenamente. Têm razão. Apercebi-me quando este ano, vi nos telejornais algumas entrevistas em directo do recinto, em que perguntavam aos motociclistas o que havia de melhor na concentração de Faro. As respostas eram unânimes: os shows de strip tease. Tinha-me escapado esse pormenor tão determinante.
Tudo isto para dizer que me aliciaram a ir a uma concentração motard com a ideia que ia ter um dia memorável. Não podiam estar mais errados: a partir de certa hora não me lembro de absolutamente nada. E assim aconteceu...
Texto publicado na Revista 2 Ride - Motorbike culture e que originou uma enorme polémica com hate mail e telefonemas a cairem na redação (com regozijo da parte da revista e alguma apreensão da minha parte, nomeadamente, no que diz respeito à minha integridade física de cada vez que saio à rua)...
Este sketch, que é uma espécie de sequela de um outro que fizemos na 1ª série do Boa Noite Alvim, conta com o Rui Neto, a Rita Cruz, a Maria Ana Filipe e o André Nunes. O André, que já há muito havia prometido juntar-se a nós assim que lhe fosse possível, é a última grande aquisição desta equipa, agora que terminou a sua participação mediática como o coitado do Gil na "Ilha dos Amores". Sejas muito bem-vindo a este excitante e parvo grupo de enorme talento e com quem tenho o enorme prazer de trabalhar!
Houve uma altura da minha vida em que sonhava ser porteiro de discoteca. Foi uma fase complicada, deitava-me tarde e depois tinha sonhos disparatados. Quando acordava percebia que jamais poderia vir a ser porteiro de discoteca: consegui terminar a escola primária e a minha mãe nunca me deixou cair de cabeça no chão quando era pequeno. E agora que penso nisso, também nunca fui muito de tomar cocktails de hormonas para cavalo ao pequeno-almoço. Sempre fui mais homem de torradas.
Há poucos relatos de pessoas que garantem ter visto um porteiro a esboçar um sorriso. O problema é que há um mito que circula entre os membros desta classe profissional: quem se atrever a ser simpático, aumenta seriamente o risco de quando falecer ir parar ao céu. Talvez seja um trauma de infância. Diz-se que um porteiro era o género de pessoa que quando era pequeno nem sequer conseguia arranjar amigos imaginários. Uma vez um porteiro não me deixou entrar por estar de t-shirt. Eu percebo. Esta é uma questão vital para que possam exercer bem a sua actividade: se os clientes estiverem de t-shirt eles não os podem agarrar pelos colarinhos.
Tenho que fazer aqui uma ressalva: eu admiro os porteiros de discoteca. A diferença entre um porteiro de discoteca e a Paris Hilton é que o porteiro não deixa entrar toda a gente. E são pessoas que levam muito a sério a profissão. Vejamos: é impossível investir numa carreira destas com cara de copinho de leite, não é? Pois bem, eu sei que alguns são tão dedicados que até se dispõem a recorrer à cirurgia plástica. E para ficar com pior aspecto! Há que dar valor a isso. “Então o que quer mudar em si?” “Olhe, estava a pensar que gostava de ter uma cicatriz que vá desde a testa até aqui ao queixo, está a ver? E depois queria que me juntasse as sobrancelhas numa só e me afiasse estes dois caninos, sefáxavôr.”
Mais um OVNI (Objecto de Video Não Identificado), feito para o Boa Noite Alvim. Por ter sido um sketch tecnicamente complexo, deu-me particular gozo coordenar e ajudar a pós-produzir (trabalho a cabo do grande Pedro Mouzinho). Penso que terá saido melhor do que quando o imaginámos. Filmado pelo Sandro Costa. Maria Ana Filipe, Pedro Ramalho, Rita Cruz e Rui Neto são a nossa sempre soberba equipa de actores aqui em trabalho a duplicar.
Tenho convivido toda a minha vida com o pânico de um dia, um dos meus relacionamentos resultar. Não imaginam como é aflitivo estar na eminência de ser bem sucedido no amor. Não é que me dê mal com o compromisso. De modo algum. Dêem-me 7 ou 8 meses e até me adapto à ideia da exclusividade. Agora, deixar de olhar para outras mulheres é que nem pensar. Quanto a mim, a exigência implícita de que mal tenhamos um relacionamento sério temos de parar de olhar para outras e concentrar-nos na única que temos, é que é o grande problema da nossa sociedade.
Muitos se perguntam: como saber quando uma relação está a ficar séria? Uma relação está a ficar séria quando a nossa companheira nos brinda com a frase, “Estás a olhar pra onde?”. Ora, isto atormenta-me porque ela sabe muito bem para onde é que eu estou a olhar. Este breve reparo permite-nos retirar em simultâneo três ilações essenciais à nossa sobrevivência: primeira, ela está já a funcionar em modo monogâmico. Alerta Vermelho!; segunda, estamos a dar demasiado nas vistas; terceira, há razões de sobra para ficarmos bastante satisfeitos connosco próprios. Apesar de nos encontrarmos por esta altura em liberdade precária, ainda não perdemos a capacidade de destrinçar beldades retumbantes quando um golpe do destino as coloca no nosso caminho.
Confesso aqui que, observar mulheres é na realidade o meu grande hobbie. Em todos as viagens e percursos que faço, activo o radar e procuro pontos de referência. No entanto, observo-as de forma lasciva muito menos vezes do que aquelas que gostaria. Simplesmente tenho de as ver a todas. Sinto que estou a compor uma espécie de portfólio para a posterioridade. Inconscientemente e enquanto homem sei que estou obrigado a armazenar nos meus arquivos mentais, o maior número possível de imagens de mulheres. Talvez mesmo todas as mulheres do mundo. O estimulante é que é uma missão que nunca está concluída. Haverá sempre mais e mais mulheres para vermos, algumas delas que vivem em países, passeiam em ruas e frequentam ginásios que nunca visitaremos. Esta é a parte triste.
Eu sou um caso perdido, bem sei. Mas há tipos que querem mudar. Para esses, gostaria de sugerir a toda a comunidade científica que arranje um tempinho – digamos, entre a cura para a SIDA e a vacina para a Gripe das Aves –, e trabalhe num tratamento que ajude a acabar com este vício. Lembrei-me que um pouco à semelhança dos pensos de nicotina para deixar de fumar, poderiam lançar no mercado pensos que forneçam a dose diária de mulheres que o organismo necessita. Começava-se por usar pensos que equivalem a 20 mulheres por dia, depois baixava-se para as 10 e assim sucessivamente até se estar completamente desintoxicado.
Duvido muito que sozinho alguém seja capaz. É um hábito extremamente difícil de se perder. Estamos a falar de pessoas que olham para o sexo oposto há vinte, trinta anos ou mais. Para deixar de reparar nelas é preciso muita força de vontade. E alguma miopia também. Invariavelmente, todos tentam e muito poucos têm o azar de conseguir.
- Uau, olha-me bem para aquela beldade! - Obrigado mas não. Ando a tentar deixar. - Ah. Não sabia que tinhas namorada nova. - Pois. - Estás a aguentar-te bem ou quê? - Tou a ir devagar pá, ando só a olhar para três ou quatro por dia. - Hum... Reduziste bastante. Como é que te sentes? - Mal, uma pessoa ao princípio não sabe onde é que há-de pôr os olhos. - Eu também já tentei mas tive uma recaída. Não olhava pra ninguém há 2 meses 4 dias e 16 horas, levaram-me a uma danceteria e foi uma desgraça. - Nem me digas nada. Eu já mal saio de casa. - Não te quero desmoralizar mas olha que quando chegar o Verão... - Eu sei. É preciso é pensamento positivo: pode ser que o namoro não dure até lá. - Eh pá, aquela não é a Soraia Chaves? - Onde? Onde? Onde?
Gostaria de partilhar convosco a primeira crónica que escrevi para a revista 2 Ride – Motorbike Culture, onde deixo bem patente toda a minha vasta experiência e profundo conhecimento do mundo das motas.
MOTAS E MULHERES
Quando me convidaram para escrever uma crónica para uma revista dedicada à cultura motociclista, esbugalhei os olhos, engoli em seco e senti-me na obrigação de explicar que não percebo rigorosamente nada de motas. Na-da. Garantiram-me que a ideia de me por a escrever sobre um tema que não domino é que seria interessante. Cá para nós, a 2Ride não quis foi deixar passar a oportunidade de me humilhar publicamente e oferecer ao seu público de entendidos na matéria, o brinde adicional de gozarem comigo. "Na compra da 2Ride ganhe um tipo ridículo a falar sobre motas!". Assim sendo, não tive outro remédio senão dizer: Então, vamos a isso, pá!
Para que percebam melhor a minha dramática situação, tenho de vos confessar que minha experiência em transportes de duas rodas, com motor, resume-se a uma motorizada que herdei do meu avô quando tinha 16 anos. Mais propriamente uma Tróia 3002. De referir que a Tróia 3002 era uma espécie de Casal Boss. Mas muito mais lenta! Apesar do nome pomposo e até futurista, cheira-me que a escolha não foi mais que um muito bem engendrado golpe de marketing. Imagino o slogan publicitário: "Tróia 3002 – Odisseia na Estrada". Perante isto, o meu avô deixou-se seduzir.
A Tróia tinha duas velocidades - com a aptidão que tenho para este género de veículos, era pelo menos uma a mais do que aquelas que deveria ter - e a cor dela era o azul-bebé metalizado o que também não ajudava nada. Para tentar dar-lhe "mais estilo", achei por bem decorá-la com uns autocolantes de surf, desporto que à época começada a ser considerado bastante cool. Teve o efeito contrário. Conclui aí que se um motão pode contribuir bastante para fomentar a vida sexual de um indivíduo, uma motorizada azul-bebé com autocolantes – e sem entrar em pormenores embaraçosos -, pode contribuir ainda mais para que se deixe ter vida sexual nos tempos vindouros…
Bom, ainda assim, apesar de guiar uma motorizada que se arrastava pelas estradas e que quase não conseguia trepar uma subida mais íngreme sem um empurrão, lá consegui que durante uma operação-stop da GNR, me multassem por excesso de ruído. Pelos vistos, o problema era o escape de rendimento (esse é o nome técnico, para mim era só um tubo que fazia fumo). O agente enfiou um aparelho no escape e ordenou: Acelere a fundo! lembro-me de ter pensado, "Ora aí está uma frase que eu nunca pensei ouvir da boca de um agente da autoridade". Moral da história: a Tróia tinha decibéis a mais e tive que pagar uma multa de 5 contos! Este momento fez maravilhas pela minha auto-estima. Graças à Tróia eu agora era um perigoso indivíduo que violava a Lei e que acordava toda a gente à passagem. Agora também eu tinha uma história para contar. Até aí, sempre me sentira marginalizado por não conseguir contribuir com nada relevante quando falava com os meus amigos. Por exemplo, no café, os meus amigos só abordam 4 temas de conversa: motas, carros, futebol e mulheres. Como não percebo nada dos dois primeiros, tinha a capacidade de participar em conversas reduzida a 50%. Invariavelmente, quando um dizia, "Já viram a nova kawasaki 1000?", eu, que tinha sede de participar na vida social da minha terra, via-me forçado a atirar com "Já viram quem é que o Benfica contratou agora?", ou perante o silêncio incomodo, "já viram a nova empregada do supermercado?". E resultava.
Mesmo para um leigo como eu, não é difícil perceber que para os homens em geral, o fascínio por uma mota é comparável ao fascínio por uma mulher. É algo que mistura a atracção física com questões sentimentais. Tal como as mulheres, as motas também podem ser alvos de amor à primeira vista ou despertar o sentimento de posse. "Eh! Que coisa mais linda. Aquela, tem que ser minha!". Fiquei mais consciente desta ideia quando um amigo, dono de uma Honda Hornet, me disse que tinha brindado uma mulher com o piropo, "Se fosses minha namorada até tinhas alarme." Aí percebi as inúmeras semelhanças que existem entre motas e mulheres. Detectei estas:
Têm tanto de belas como de perigosas.
É preciso ter unhas para as conseguir segurar.
Quando estamos em cima delas, o tempo passa a correr.
Há para todos os gostos: leves e ágeis, robustas e confortáveis, pesadonas e difíceis de manobrar.
Gostamos mesmo delas é quando há curvas.
Topam-se à distância quando vêm com os faróis acesos.
É muito bom ter uma mas tem elevados custos de manutenção.
Percebemos que temos de a trocar por outra quando começam com chiadeira por tudo e por nada.
Gostamos de agarrar nelas e ir abanar o capacete.
Quando são realmente boas somos a inveja dos nossos amigos. Só quando estamos fartos delas é que deixamos os nossos amigos dar uma voltinha.
Umas estão pouco rodadas, outras têm muita quilometragem.
Quando ainda não as conhecemos bem, convém avançar com cuidado ou corremos o risco de nos estatelarmos ao comprido.
Agora, vocês que são entendidos, corrijam-me se estiver enganado.
Como há muitos portugueses que escolhem o mês de Setembro para gozar o seu merecido descanso, deixo aqui algumas propostas de destinos de férias que me parecem bastante divertidos e atractivos.
Favelas cariocas por apenas 4330 euros!
Ir ao Rio de Janeiro e não conhecer as favelas maravilhosas cheias de encantos mil, é crime. Encostas exóticas. Possibilidade de participar em excursões organizadas a negociatas de droga.
Hospitalidade e simpatia esperam por si. Alojamento em barracas de famílias tradicionais.
7 Noites (se tiver sorte)
Inclui: avião + Colete à prova de bala + Seguro de vida
Franquia de 20 kg de bagagem (heroína, crack e maconha)
Campo de refugiados do Ruanda: promoção de Verão
O lugar ideal para aqueles que procuram céu aberto e sol esplendoroso...
Super oferta :
Alojamento em tapete duplo de 4 estrelas.
Inclui: 1 refeição ligeira + 20 ml de água potável + Repelente de insectos + vacinas
Partida imediata. Chegada quando calhar apanhar boleia de uma avioneta da Cruz Vermelha.
Trasfers (se estiver superlotado)
Saint TropezStyle
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Ah, o Verão! Essa estação do ano tão maravilhosa quanto horripilante. Se por um lado há calor, praias, mar e um número considerável de mulheres semi-desnudadas, por outro lado há… casamentos. Falo, apesar de tudo, dos casamentos dos outros. O problema é que insistem com frequência em convidar-me para as cerimónias. Então é assim: que amigos, colegas de trabalho e familiares queiram arruinar a sua vida é lá com eles. Agora, que façam questão de me ter lá para assistir em posição privilegiada ao início do descalabro é que é mais desagradável. Sobretudo porque se me estão a acabar as desculpas aceitáveis. Nos últimos tempos já tive, seis doenças infecto-contagiosas, outras tantas venéreas, fui vítima de três sequestros, duas prisões domiciliárias e submetido a transplantes dos mais diversos órgãos.
Posto isto, não me restou outra alternativa senão comparecer recentemente em mais uma boda. Aproveitei a ocasião para arejar a traça do meu (único) fato e fazer algumas observações.
COCKTAIL, ALMOÇO E COPO D’ÁGUA
A primeira conclusão que extraí: o pecado da gula foi inventado a pensar exclusivamente nos banquetes de casamento. A ideia era obviamente refrear os ânimos dos convidados. Nem quero imaginar a quantidade de comida que seria necessária concentrar no mesmo espaço se não se tivesse introduzido na nossa sociedade judaico-cristã esse toque de contenção religiosa. Dava com certeza para matar a fome em meia dúzia de países africanos. Também é fácil de perceber o porquê de se ter colocado logo a gula na lista dos Pecados Mortais. Da forma como todos se atiram aos canapés, enchidos, mesas de queijos, mariscos e pratos variados, as hipóteses de se ter um enfarte do miocárdio ou um AVC são bastante elevadas. Dá a sensação que há por ali pessoas que deixaram de comer assim que receberam o convite de casamento (a modos que para maximizar o potencial de empanturranço). Ao observar a orgia gastronómica neste último casamento, não pude deixar de concluir que o pensamento corrente é, “Ah, agora é que uma bulimia vinha mesmo a calhar”.
FOTOGRAFIAS
Outro aspecto interessante dos casamentos é o momento das fotografias com os noivos. Todos insistem em tirar fotografias com os nubentes mesmo que estes estejam já a desfalecer, visivelmente desidratados ou lhes escorra um fio de baba pelo canto da boca. Nada disso parece importar aos convidados de um casamento. O que é importa é registar o momento. Todos querem uma prova irrefutável de que lá estiveram. As motivações, essas sim, é que têm vindo a mudar. Na década de 70 e 80 as pessoas tiravam fotografias com os noivos para que uns 16 anos mais tarde pudessem mostrar aos filhos as grotescas fatiotas que tinham coragem de usar. E percebe-se: contado, ninguém acreditaria que pudesse ser possível ter-se saído assim vestido à rua, quanto mais aparecer em eventos de confraternização onde estão pessoas que nos conhecem. Poder ser humilhado pelos filhos fazia parte do imaginário social desses tempos. Mais tarde, na década de noventa em diante (devido à diminuição drástica do prazo de validade dos casamentos), as pessoas passaram a querer ter uma fotografia que prove que aquele casamento existiu mesmo. Enquanto o fotógrafo diz “sorriam e olhem para aqui”, podemos ler o que vai na alma dos convivas através das suas expressões faciais: “Humm, dou-lhes seis meses. No máximo dos máximos...”
Como se a tortura não bastasse, os noivos têm ainda de dedicar parte da sua tarde a tirar fotografias a dois. O que acontece com frequência é serem levados para uma praia, para o campo ou qualquer outra paisagem idílica. Não percebo. Quanto a mim, este seria o momento ideal para os pôr imediatamente em contacto com o verdadeiro espírito do casamento: as fotografias deveriam ser tiradas na prisão do Linhó, Vale de Judeus ou qualquer outra penitenciária que fique ali por perto. Assim sim, faria sentido.
Ora então, muito boa tarde. Estou de volta depois uma paragem forçada (forcei-me a tirar uma férias longas e retemperadoras, bem longe da internet). Mas fiquem sabendo que não estive completamente parado. Para aqueles que queiram recuperar o tempo perdido - ou melhor dizendo – para os que queiram recuperar o tempo que perdem a ler as coisas que escrevo, sugiro duas revistas das quais sou colaborador e que estão já nas bancas.
O nº 25 da Revista 365 está lindíssimo com um papel diferente (agradável ao toque e ao palato) e o formato que já vinha do número anterior. Escrevi um texto intitulado “Observar mulheres por aí: essa nobre arte”. Não fiquem assustados, esta 365 também contém excelentes autores com textos, crónicas, contos e ensaios de grande qualidade.
A outra sugestão que vos faço é a nova revista 2Ride, dedicada à cultura motociclista. Com um design arrojado e apelativo, uma equipa que sabe o que está a fazer e um apurado cuidado fotográfico, a 2Ride é uma nova referência para quem é um apaixonado pelos desportos motorizados, mototurismo e quer uma revista que esteja a par das últimas novidades do mercado, com itinerários, viagens, comparativos e reportagens.
Aqui, a minha participação é menos compreensível na medida em que - bom, como é que eu hei-de dizer isto... - não percebo rigorosamente nada de motas. Quando me fizeram a proposta de escrever uma crónica mensal fiz questão de lhes explicar isso mesmo. Ainda perguntei, “Ah e coiso mas vocês querem vender a revista, certo?”. Responderam-me que sim e que queriam uma visão humorística e crítica de alguém que está por fora do universo dos veículos de duas rodas. “Pois, pois”, pensei eu, ou como explico na primeira crónica, não quiseram foi “deixar passar a oportunidade de me humilharem publicamente e oferecer ao seu público de entendidos na matéria, o brinde adicional de gozarem comigo. "Na compra da 2Ride ganhe um tipo ridículo a falar sobre motas!". Está já à venda o número de Setembro!