terça-feira, setembro 04, 2007

CASAMENTOS DE VERÃO


Ah, o Verão! Essa estação do ano tão maravilhosa quanto horripilante. Se por um lado há calor, praias, mar e um número considerável de mulheres semi-desnudadas, por outro lado há… casamentos. Falo, apesar de tudo, dos casamentos dos outros. O problema é que insistem com frequência em convidar-me para as cerimónias. Então é assim: que amigos, colegas de trabalho e familiares queiram arruinar a sua vida é lá com eles. Agora, que façam questão de me ter lá para assistir em posição privilegiada ao início do descalabro é que é mais desagradável. Sobretudo porque se me estão a acabar as desculpas aceitáveis. Nos últimos tempos já tive, seis doenças infecto-contagiosas, outras tantas venéreas, fui vítima de três sequestros, duas prisões domiciliárias e submetido a transplantes dos mais diversos órgãos.

Posto isto, não me restou outra alternativa senão comparecer recentemente em mais uma boda. Aproveitei a ocasião para arejar a traça do meu (único) fato e fazer algumas observações.

COCKTAIL, ALMOÇO E COPO D’ÁGUA

A primeira conclusão que extraí: o pecado da gula foi inventado a pensar exclusivamente nos banquetes de casamento. A ideia era obviamente refrear os ânimos dos convidados. Nem quero imaginar a quantidade de comida que seria necessária concentrar no mesmo espaço se não se tivesse introduzido na nossa sociedade judaico-cristã esse toque de contenção religiosa. Dava com certeza para matar a fome em meia dúzia de países africanos. Também é fácil de perceber o porquê de se ter colocado logo a gula na lista dos Pecados Mortais. Da forma como todos se atiram aos canapés, enchidos, mesas de queijos, mariscos e pratos variados, as hipóteses de se ter um enfarte do miocárdio ou um AVC são bastante elevadas. Dá a sensação que há por ali pessoas que deixaram de comer assim que receberam o convite de casamento (a modos que para maximizar o potencial de empanturranço). Ao observar a orgia gastronómica neste último casamento, não pude deixar de concluir que o pensamento corrente é, “Ah, agora é que uma bulimia vinha mesmo a calhar”.

FOTOGRAFIAS

Outro aspecto interessante dos casamentos é o momento das fotografias com os noivos. Todos insistem em tirar fotografias com os nubentes mesmo que estes estejam já a desfalecer, visivelmente desidratados ou lhes escorra um fio de baba pelo canto da boca. Nada disso parece importar aos convidados de um casamento. O que é importa é registar o momento. Todos querem uma prova irrefutável de que lá estiveram. As motivações, essas sim, é que têm vindo a mudar. Na década de 70 e 80 as pessoas tiravam fotografias com os noivos para que uns 16 anos mais tarde pudessem mostrar aos filhos as grotescas fatiotas que tinham coragem de usar. E percebe-se: contado, ninguém acreditaria que pudesse ser possível ter-se saído assim vestido à rua, quanto mais aparecer em eventos de confraternização onde estão pessoas que nos conhecem. Poder ser humilhado pelos filhos fazia parte do imaginário social desses tempos. Mais tarde, na década de noventa em diante (devido à diminuição drástica do prazo de validade dos casamentos), as pessoas passaram a querer ter uma fotografia que prove que aquele casamento existiu mesmo. Enquanto o fotógrafo diz “sorriam e olhem para aqui”, podemos ler o que vai na alma dos convivas através das suas expressões faciais: “Humm, dou-lhes seis meses. No máximo dos máximos...”

Como se a tortura não bastasse, os noivos têm ainda de dedicar parte da sua tarde a tirar fotografias a dois. O que acontece com frequência é serem levados para uma praia, para o campo ou qualquer outra paisagem idílica. Não percebo. Quanto a mim, este seria o momento ideal para os pôr imediatamente em contacto com o verdadeiro espírito do casamento: as fotografias deveriam ser tiradas na prisão do Linhó, Vale de Judeus ou qualquer outra penitenciária que fique ali por perto. Assim sim, faria sentido.

3 comentários:

  1. Ah e tal, o casamento é uma prisão. Eu quanto a ti não sei, mas entre passar fome e comer sempre do mesmo, até prefiro comer sempre do mesmo…

    ResponderEliminar
  2. Este fim-de-semana fui a um casamento de uma amiga. Não me importo ir a casamento de amigos. O meu problema é quando os casórios são de alguém da família. É que tenho uns quantos parentes um bocado retardados...

    ResponderEliminar
  3. Já o disse em outras alturas. Copo de água é o nome mais mal posto até hoje... porque água é a última coisa que se bebe num casamento.

    Poderia ser copo de tinto, copo de três, copo de Goronsan...

    Tó do Samouco

    www.samoucoaorubro.blogspot.com

    ResponderEliminar