terça-feira, dezembro 18, 2007

Eu gosto é dos hipermercados tradicionais!

Agora que Leiria se prepara para ter novos shoppings, está instalada a guerra entre o comércio dito tradicional e as grandes superfícies. Como não poderia deixar de ser, nestas circunstâncias estou sempre do lado dos mais fracos. E neste caso, claro, os mais fracos são os hipermercados. Tão fracos que até tenho dificuldades em encontrar argumentos para os defender. Mas vou tentar. Não porque esteja a ser pago por eles mas por um motivo muito mais nobre: fica bem no currículo de um indivíduo causar polémica logo à primeira crónica.

Começo por dizer então que não concordo nada com a apropriação que o pequeno comércio faz do termo “tradicional”. Se há tradição que os portugueses têm, é aproveitar qualquer bocadinho para ir a um centro comercial. Podiam ir a um museu, podiam ver uma exposição, podiam até ficar em casa a ler um bom livro, mas não. Fazem questão de manter os hábitos há muito enraizados. Os portugueses sentem, como eu sinto, que há um compromisso com o grande capital que não se pode quebrar, ou correremos o risco de deixar de ser o país da Europa onde se constroem os maiores centros comerciais. Quem é que está preparado para perder um título destes? Não eu, certamente. Outro aspecto que quero salientar é que enquanto as pequenas lojas são espaços acanhados, os shoppings são espaços sociais amplos que não fazem distinção entre classes ou credos. Se prestarem atenção, podem ver famílias inteiras (com fato de treino), a passear lado a lado com gangs organizados. É bonito e é salutar para a nossa democracia. (Obviamente que os gangs também podem circular pelas ruas do centro da cidade, no entanto, às vezes está de chuva e há o perigo das pistolas e das naifas enferrujarem.)

Não se pode entrar numa loja de bairro sem que venham logo ter comigo. Parece que fazem questão de me deixar pouco à-vontade. Não é possível ser um tímido e necessitar de entrar numa retrosaria. E mesmo numa lojinha de roupa, partem do princípio que a) quero alguma coisa ou b) estou lá por engano. Digam-me com sinceridade: não podemos entrar numa loja de roupa se c) nos sentimos reconfortados perto de malhas e algodão fofinho? Pelos vistos, nem pensar. Imediatamente chega uma empregada ávida por inquirir: “Precisa de ajuda?”. Isto deprime qualquer um. Ponho-me logo a pensar que ando com ar abatido e com cara de quem atravessa uma fase complicada da vida. Já mais do que uma vez me apeteceu responder: “Sim, pode ajudar. Se não se importa, eu deitava a cabeça no seu colo e você fazia-me um cafuné”. Já passei pelo cúmulo de entrar numa frutaria e me abordarem com, “Boa tarde. Tem alguma dúvida?”. Para além de ser uma questão demasiado filosófica para se levantar junto de fruta, o que um cidadão mais indisciplinado do que eu tinha retorquido era, “Sim, sim. Faço sempre confusão: isto aqui são bananas e isto são ananases, certo? Ou será ao contrário?”. É por estas e por outras que eu gosto do ambiente impessoal das grandes superfícies. Se quiser que alguém repare em mim quando ando às compras, saio de casa com um colete reflector vestido. E por esta semana é tudo, se não houver polémica nenhuma fico muito decepcionado. Talvez até tenha que entrar numa lojinha de roupa…


Crónica publicada no nº1 da primeira revista de grande informação do distrito de Leiria, Expressões - News Magazine. Boa sorte para este projecto arrojado! E já agora também para mim, que vou ter de fazer juz ao nome de uma coluna semanal intitulada “Graça Crónica”.

1 comentário:

  1. OH PÁÁÁ!!!!! muito bem visto, sorri largamente :)

    beijo beijo

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