terça-feira, setembro 18, 2007

CRÓNICA I

Gostaria de partilhar convosco a primeira crónica que escrevi para a revista 2 Ride – Motorbike Culture, onde deixo bem patente toda a minha vasta experiência e profundo conhecimento do mundo das motas.



MOTAS E MULHERES

Quando me convidaram para escrever uma crónica para uma revista dedicada à cultura motociclista, esbugalhei os olhos, engoli em seco e senti-me na obrigação de explicar que não percebo rigorosamente nada de motas. Na-da. Garantiram-me que a ideia de me por a escrever sobre um tema que não domino é que seria interessante. Cá para nós, a 2Ride não quis foi deixar passar a oportunidade de me humilhar publicamente e oferecer ao seu público de entendidos na matéria, o brinde adicional de gozarem comigo. "Na compra da 2Ride ganhe um tipo ridículo a falar sobre motas!". Assim sendo, não tive outro remédio senão dizer: Então, vamos a isso, pá!

Para que percebam melhor a minha dramática situação, tenho de vos confessar que minha experiência em transportes de duas rodas, com motor, resume-se a uma motorizada que herdei do meu avô quando tinha 16 anos. Mais propriamente uma Tróia 3002. De referir que a Tróia 3002 era uma espécie de Casal Boss. Mas muito mais lenta! Apesar do nome
pomposo e até futurista, cheira-me que a escolha não foi mais que um muito bem engendrado golpe de marketing. Imagino o slogan publicitário: "Tróia 3002 – Odisseia na Estrada". Perante isto, o meu avô deixou-se seduzir.

A Tróia tinha duas velocidades - com a aptidão que tenho para este género de veículos, era pelo menos uma a mais do que aquelas que deveria ter - e a cor dela era o azul-bebé metalizado o que também não ajudava nada. Para tentar dar-lhe "mais estilo", achei por bem decorá-la com uns autocolantes de surf, desporto que à época começada a ser considerado bastante cool. Teve o efeito contrário. Conclui aí que se um motão pode contribuir bastante para fomentar a vida sexual de um indivíduo, uma motorizada azul-bebé com autocolantes – e sem entrar em pormenores embaraçosos -, pode contribuir ainda mais para que se deixe ter vida sexual nos tempos vindouros…

Bom, ainda assim, apesar de guiar uma motorizada que se arrastava pelas estradas e que quase não conseguia trepar uma subida mais íngreme sem um empurrão, lá consegui que durante uma operação-stop da GNR, me multassem por excesso de ruído. Pelos vistos, o problema era o escape de rendimento (esse é o nome técnico, para mim era só um tubo que fazia fumo). O agente enfiou um aparelho no escape e ordenou: Acelere a fundo! lembro-me de ter pensado, "Ora aí está uma frase que eu nunca pensei ouvir da boca de um agente da autoridade". Moral da história: a Tróia tinha decibéis a mais e tive que pagar uma multa de 5 contos! Este momento fez maravilhas pela minha auto-estima. Graças à Tróia eu agora era um perigoso indivíduo que violava a Lei e que acordava toda a gente à passagem. Agora também eu tinha uma história para contar. Até aí, sempre me sentira marginalizado por não conseguir contribuir com nada relevante quando falava com os meus amigos. Por exemplo, no café, os meus amigos só abordam 4 temas de conversa: motas, carros, futebol e mulheres. Como não percebo nada dos dois primeiros, tinha a capacidade de participar em conversas reduzida a 50%. Invariavelmente, quando um dizia, "Já viram a nova kawasaki 1000?", eu, que tinha sede de participar na vida social da minha terra, via-me forçado a atirar com "Já viram quem é que o Benfica contratou agora?", ou perante o silêncio incomodo, "já viram a nova empregada do supermercado?". E resultava.

Mesmo para um leigo como eu, não é difícil perceber que para os homens em geral, o fascínio por uma mota é comparável ao fascínio por uma mulher. É algo que mistura a atracção física com questões sentimentais. Tal como as mulheres, as motas também podem ser alvos de amor à primeira vista ou despertar o sentimento de posse. "Eh! Que coisa mais linda. Aquela, tem que ser minha!". Fiquei mais consciente desta ideia quando um amigo, dono de uma Honda Hornet, me disse que tinha brindado uma mulher com o piropo, "Se fosses minha namorada até tinhas alarme." Aí percebi as inúmeras semelhanças que existem entre motas e mulheres. Detectei estas:

Têm tanto de belas como de perigosas.

É preciso ter unhas para as conseguir segurar.

Quando estamos em cima delas, o tempo passa a correr.

Há para todos os gostos: leves e ágeis, robustas e confortáveis, pesadonas e difíceis de manobrar.

Gostamos mesmo delas é quando há curvas.

Topam-se à distância quando vêm com os faróis acesos.

É muito bom ter uma mas tem elevados custos de manutenção.

Percebemos que temos de a trocar por outra quando começam com chiadeira por tudo e por nada.

Gostamos de agarrar nelas e ir abanar o capacete.

Quando são realmente boas somos a inveja dos nossos amigos. Só quando estamos fartos delas é que deixamos os nossos amigos dar uma voltinha.

Umas estão pouco rodadas, outras têm muita quilometragem.

Quando ainda não as conhecemos bem, convém avançar com cuidado ou corremos o risco de nos estatelarmos ao comprido.

Agora, vocês que são entendidos, corrijam-me se estiver enganado.



4 comentários:

  1. Ola,

    é possivel fazeres um post pequenino a divulgar o lançamento em lisboa do meu livro? pode susar a capa.

    no meu site esta a info:

    www.tiagonene.pt.vu

    conto ctg lá tambem, claro:)
    vai estar la algumas pessoas conhecidas. Aparece!

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  2. Já só te falta a Famel pah!

    Tó do Samouco

    www.samoucoaorubro.blogspot.com

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  3. Amei este post, consigo ver muitos amigos meus nessa papel entre a mota e a mulher LOL

    Gostava de saber se podia retirar este teu texto e meter no meu blog para eles verem e já agora se posso meter o link do teu blog nos meus favoritos para todos eles poderem dar aqui uma espreitadela:p
    Tou a amar o blog a sério.

    Bjs e parabens ;)

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  4. olha...............mais um artigo da revista maravilha.

    esses gajos sao uns ladrões!

    beijinhos e abraços

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