quarta-feira, outubro 10, 2007

Observar Mulheres por Aí: Essa Nobre Arte


Tenho convivido toda a minha vida com o pânico de um dia, um dos meus relacionamentos resultar. Não imaginam como é aflitivo estar na eminência de ser bem sucedido no amor. Não é que me dê mal com o compromisso. De modo algum. Dêem-me 7 ou 8 meses e até me adapto à ideia da exclusividade. Agora, deixar de olhar para outras mulheres é que nem pensar. Quanto a mim, a exigência implícita de que mal tenhamos um relacionamento sério temos de parar de olhar para outras e concentrar-nos na única que temos, é que é o grande problema da nossa sociedade.

Muitos se perguntam: como saber quando uma relação está a ficar séria? Uma relação está a ficar séria quando a nossa companheira nos brinda com a frase, “Estás a olhar pra onde?”. Ora, isto atormenta-me porque ela sabe muito bem para onde é que eu estou a olhar. Este breve reparo permite-nos retirar em simultâneo três ilações essenciais à nossa sobrevivência: primeira, ela está já a funcionar em modo monogâmico. Alerta Vermelho!; segunda, estamos a dar demasiado nas vistas; terceira, há razões de sobra para ficarmos bastante satisfeitos connosco próprios. Apesar de nos encontrarmos por esta altura em liberdade precária, ainda não perdemos a capacidade de destrinçar beldades retumbantes quando um golpe do destino as coloca no nosso caminho.

Confesso aqui que, observar mulheres é na realidade o meu grande hobbie. Em todos as viagens e percursos que faço, activo o radar e procuro pontos de referência. No entanto, observo-as de forma lasciva muito menos vezes do que aquelas que gostaria. Simplesmente tenho de as ver a todas. Sinto que estou a compor uma espécie de portfólio para a posterioridade. Inconscientemente e enquanto homem sei que estou obrigado a armazenar nos meus arquivos mentais, o maior número possível de imagens de mulheres. Talvez mesmo todas as mulheres do mundo. O estimulante é que é uma missão que nunca está concluída. Haverá sempre mais e mais mulheres para vermos, algumas delas que vivem em países, passeiam em ruas e frequentam ginásios que nunca visitaremos. Esta é a parte triste.

Eu sou um caso perdido, bem sei. Mas há tipos que querem mudar. Para esses, gostaria de sugerir a toda a comunidade científica que arranje um tempinho – digamos, entre a cura para a SIDA e a vacina para a Gripe das Aves –, e trabalhe num tratamento que ajude a acabar com este vício. Lembrei-me que um pouco à semelhança dos pensos de nicotina para deixar de fumar, poderiam lançar no mercado pensos que forneçam a dose diária de mulheres que o organismo necessita. Começava-se por usar pensos que equivalem a 20 mulheres por dia, depois baixava-se para as 10 e assim sucessivamente até se estar completamente desintoxicado.

Duvido muito que sozinho alguém seja capaz. É um hábito extremamente difícil de se perder. Estamos a falar de pessoas que olham para o sexo oposto há vinte, trinta anos ou mais. Para deixar de reparar nelas é preciso muita força de vontade. E alguma miopia também. Invariavelmente, todos tentam e muito poucos têm o azar de conseguir.

- Uau, olha-me bem para aquela beldade!
- Obrigado mas não. Ando a tentar deixar.
- Ah. Não sabia que tinhas namorada nova.
- Pois.
- Estás a aguentar-te bem ou quê?
- Tou a ir devagar pá, ando só a olhar para três ou quatro por dia.
- Hum... Reduziste bastante. Como é que te sentes?
- Mal, uma pessoa ao princípio não sabe onde é que há-de pôr os olhos.
- Eu também já tentei mas tive uma recaída. Não olhava pra ninguém há 2 meses 4 dias e 16 horas, levaram-me a uma danceteria e foi uma desgraça.
- Nem me digas nada. Eu já mal saio de casa.
- Não te quero desmoralizar mas olha que quando chegar o Verão...
- Eu sei. É preciso é pensamento positivo: pode ser que o namoro não dure até lá.
- Eh pá, aquela não é a Soraia Chaves?
- Onde? Onde? Onde?


Texto publicado no nº 25 da Revista 365

9 comentários:

  1. Não é por se ter um relacionamento monogâmico que se passa a ser ceguinho...

    Adoro o meu moço, mas sei reconhecer um homem jeitoso quando o vejo, e ele faz o mesmo com as gajas boas.

    E para o bem da nossa sanidade mental, quando um apanha o outro a olhar, dá-se um carolo e muitas gargalhadas.

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  2. Excelente! Se bem que acho que a solução está mesmo nas cataratas, de resto, ninguém me vai impedir de olhar para onde quero! :P

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  3. como me revi neste post...

    e é algo de tão natural que nunca tinha dado grande tempo para pensar no assunto!

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  4. Portfólios... pois!

    "Começava-se por usar pensos que equivalem a 20 mulheres por dia, depois baixava-se para as 10 e assim sucessivamente até se estar completamente desintoxicado" - vai daí em overdose ainda provoca uma reviravolta na orientação sexual de um gajo.

    Mas concordando... o gado preso também pasta...

    um beijo.
    :)

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  5. tenho que ser sincero e admitir que não li nada, mas não queria deixar de notificar que passei aqui vindo da parte do "Olhe que não xôtor...", notificação essa a pedido do próprio.

    oaltooforteeomoyle.blogspot.com

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  6. LOL
    Eu geralmente quando faço a pergunta "para onde tás a olhar?", é porque também quero ver!!!

    E não quero um homem a meu lado que se sinta castrado!!! Se não gosto de ser controlada, não controlo, e tenho a parte de boa de ora gostar de olhar para homens como para mulheres.

    Sei bem distinguir uma Soraia Chaves duma Teresa Guilherme LOOL

    Ok. Comparação infeliz, mas deu pra perceber :P

    Eu própria ofereci a assinatura da Maxmen ao meu marido!!! Querem melhor???

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  7. Onde é que se colava o penso?

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  8. Sempre ouvi dizer… Lá por uma pessoa estar de dieta não quer dizer que não possa olhar para a ementa…

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